terça-feira, 1 de julho de 2008
O porvir
Rogel Samuel
“Pensar é transpor”, disse Bloch. Por isso, seu princípio da esperança não é o da “espera”, mas do “avanço” – ou seja, a esperança, ali, já não significa a passividade do esperar, do receber do milagroso céu, do acontecer ao acaso, mas da construção do futuro, ativo alcance da transposição daqueles obstáculos que eterna e repetidamente aparecem na nossa frente. É a construção do futuro. Projetamos um objetivo, ou o buscamos no horizonte infinito? Que queremos nós? Bloch introduz no pensamento marxista este novo cosmorama com esta sua teoria prospectiva. Não existe senão o aqui e agora e o avanço para o futuro. Nós temos de extrair o futuro de suas profundezas misteriosas. E para isso precisamos de nos tornar ao futuro, na aceitação do novo. É este o signo, a chave dessa teoria do progresso social, dessa teoria da revolução própria do princípio da esperança. No que não existe, o sonhar para a frente.
Quem começou este tema fundamental da filosofia foi o russo Dimitri Pissarev (1840-1868) citado por Lênin em “Que fazer?” (São Paulo, Hucitec, 1988, p. 132) que escreveu: “Com o que devemos sonhar? (...) O desacordo entre o sonho e a realidade nada tem de nocivo se, cada vez que sonha, o ser humano acredita seriamente em seu sonho, se observa atentamente a vida, compara suas observações com seus castelos no ar e, de uma forma geral, trabalha conscientemente para a realização de seu sonho. Quando existe contato entre o sonho e a vida, então tudo vai bem”.
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