sábado, 9 de abril de 2011
Liz: o apagar de uma estrela
.Ivan Lessa,
Colunista da BBC Brasil
Meados dos anos 40 e a MGM gostava de se alardear como tendo “mais astros e estrelas do que os céus”. Não estavam de todo errado.
Volta e meia há um pequeno item de cinejornal mostrando a comemoração dos 25 anos do estúdio do leão no ano de 1949. Busquem no YouTube sob o slogan citado no início. Tá todo mundo lá. Fila após fila, sorridente, uns com graça, outros não. E tome constelação: Clark Gable, Greer Garson, Ann Miller, Wallace Beery, Gene Kelly, Judy Garland, Mickey Rooney, Van Johnson, June Allyson, Lana Turner, Kate Hepburn, Spencer Tracy, Ava Gardner, Errol Flynn e a vista de gente já vai se turvando.
Claro que Elizabeth Taylor estava presente. Lena Horne, com a cara meio amarrada. Frank Sinatra, Betty Garrett. Pense em alguém que, na época, era alguém. Estava lá. Brilhando como se estivessem no tal céu de Hollywood.
Nada nem ninguém se promovia como a cidade à epoca chamada de “fábrica de sonhos”. Não é que era mesmo. Não canso de ver no sítio esse, o YouTube. Mais de 95% da turma subiu, pediu o boné, bateu com as 10.
Possivelmente Liz Taylor foi a última delas. E olha que quase, quase esbarra em broto. Afinal, começou sua carreira em 1943, muito chorosa (era melhor com A Coragem de Lassie). Nascera em Londres, único lugar em que vi olhos violeta iguais àqueles. Vivien Leigh tinha.
Depois, passou a se dedicar, de corpo e alma, ao casamento. Diziam que ela “não dava”, casava. Foram oito os casamentos, inclusive duas vezes com o versátil e, para ela, letal, Richard Burton, filho de mineiro galês. Grosso e dono de voz e talento incomparáveis. Não tanto quanto achava que tinha, mas mais do que dava para o gasto.
O desfile para o altar começou com Nicky Hilton (é, aquele do hotel), passou-se para o medíocre ator Michael Wilding, também de origem britânica (feito Burton 1 e Burton 2) e encestou de anel e tudo (ninguém entendeu, o insuportável Eddie Fisher, que esse só a Debbie Reynolds para explicar).
Arroz aqui, buquê jogado ali e tome um senador insignificante, John Warner. Antes, uma boa. Mike Todd, aquele de A Volta ao Mundo em 80 Dias e muita saia rodada em cima de Liz. Durou um aninho só, o passeio. Outro que deixou o pessoal sem fala: Larry Fortensky (1991-1996). Datam daí as primeiras fofocas em torno da sanidade mental de Liz Taylor.
Mas um ator é também seu conjunto de obra. Liz esteve em filmes bons e sempre péssima. Ó Senhor, aquela voz estridente! Vontade de matar. Talvez o melhor seja aquele cujo título em português passou a virar coisíssima alguma Gata em teto de zinco quente. Ora, não dá. É roof. Telhado. Em telhado, Maggie, a Cat, se esborracharia no chão em 1 minuto.
Mais: Quem tem medo de Virginia Woolf?, grafite que Edward Albee recolheu de um mictório, no Village, em Nova York, e só quem sabe cantar Who's afraid of the big bad Wolf, daquele desenho animado, pode explicar aos incultos. Além do mais, a Martha que ela retrata deveria ter 10 anos mais que o George (George, Martha, pais da pátria, sacaram?) do Burton.
Agora tem um ótimo com o Laurence Harvey que dá inclusive para esquecer da rápida (muito rápida) “atuação”de Eddie Fisher como o amigo da garota de programa. Gloria, baseado em escritos do esplêndido John O'Hara e que no Brasil, recebeu, é o que diz aqui no volume à minha mão, O Número do Amor. Erros, acertos.
Boom!, coitadinho do Noel Coward, Ivanhoé, Giant (Assim caminha a Humanidade, pomba!) e um bom Tennesse Williams com Kate Hepburn e Monty Clift, De repente no verão passado, com seu amigão Monty, que a acompanhou também não só a muitos bailes com o absurdo A árvore da vida e um formidável do George Stevens, Um lugar ao sol. Cleópatra? Peço um pouco de pudor aos cavalheiros e senhoras presentes.
Resumindo, era uma péssima atriz. Os deuses são cruéis e talvez ela fique lembrada apenas pela única palavra dita num episódio dos Simpson, dizia apenas daddy. Melhor coisa que já fez.
Eu, de teimosia, continuo amando desesperadamente, desde os anos 40, quem ainda está viva, talvez mais ou menos feito eu, Katherine Grayson (née Zelma Hedrick). Aquilo sim é que era e deve continuar a ser mulher, como o quer (como eu a quis, Senhor!) o samba – imortal como nós dois.
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