Minha amiga Maíra escreve. Estive com ela em Los Angeles, logo após o 11 de setembro. Fui revistado umas sete vezes, no caminho. No Galeão me puseram numa sala isolada antes de viajar e abriram mala, bolsa e bolsos. Um inferno. Em Los Angeles passei duas semanas com minha amiga e seu namorado. E foi muito bom. Fomos a Malibu e em Hollywood comprei um boné com que caminho até hoje. O casal não estava lá muito bem. Depois se separaram. A vida conjugal me lembra de reler a "Carta de guia de casados", de D. Francisco Manuel de Melo. Ele é um dos maiores prosadores da nossa língua. "Não sou já mancebo. Criei-me em cortes; andei por esse mundo; atentava para as coisas; guardava-as na memória. Vi, li, ouvi. Algumas histórias que me forem lembrando, pode muito bem ser não sejam agora menos úteis", diz ele. Certamente, junto com "A arte de amar", de Ovídio, é um clássico. E não sei se ainda se aplica hoje. O que serve é o poema de Bandeira, também chamado "Arte de amar", que diz:
Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
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