sexta-feira, 9 de maio de 2008

O NAUFRÁGIO

O NAUFRÁGIO


Sim, nada mais irresponsável do que viajar pelos rios da Amazônia. Certa vez, fiz o barco retornar. Voltávamos do mesmo lugar do naufrágio, de Manacapuru, o fotógrafo Alberto César Araújo, Azauri Passos e eu. Quando vi o excesso de peso, a instabilidade do barco, gritei para o dono: "Volta!" Berrei feito um louco, fiz um escândalo, eles voltaram e nos deixaram no porto. Meu pai, que era marinheiro
profissional, da Marinha Francesa, nunca permitiu que a família navegasse naqueles "Navios de Linha". Os rios amazônicos são oceanos e os perigos são imensos. As águas cheias de paus, troncos, bancos de areia, torrões, pedrais, salões e muiunas, rebojos, ituranas, panolas, panelões, praias, sacados, jupiás, ipuêras, baixios, cambões, caldeirões, esqueletos, praias de duas cabeças, voltas -obstáculos e perigos da navegação ordinária, de grande ou de pequeno calado,
para navios, motores, canoas, montaria e igarités... O dono do hotel onde me hospedo em Manaus morreu ali, na mesma região. Caiu na água e desapareceu no sorvedouro. Bebe-se muito, durante o trajeto. Há maior número de navios no fundo do que navegando na superfície. Duas brigas dentro do barco "Comandante Sales" podem ter ocasionado o maior naufrágio já ocorrido na região de Manacapuru, totalizando 46 mortos. Não havia saída de emergência aberta. A lona que protege as laterais da embarcação estava amarrada, impedindo a saída dos passageiros no meio da noite. Um sobrevivente conseguiu rasgar a lona e salvar várias vidas. A vida, a preciosa vida.

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