quinta-feira, 15 de maio de 2008

GUILLERMO FRANCOVICH


De repente, no meu arquivo, uma carta antiga, de 6 de novembro de 1986,do filósofo boliviano Guillermo Francovich. Que traduzo. "Mui estimado amigo R. S. Acabo de receber, com o mais vivo prazer o recorte do Suplemento Literário do Jornal do Comércio que você se dignou enviar-me e que traz um artigo em que, ao mesmo tempo que se refere a Serrano Caldera, tem você a gentileza de comentar dois livros meus que tive o prazer de enviar-lhe já faz algum tempo." Segue por aí a carta. Caldera é o filósofo, jurista e escritor nicaragüense. Francovich faleceu em 1990. Agora está muito mais famoso do que antes. Eu o conheci numa reunião de intelectuais. Estava muito idoso, sozinho num canto, e eu me aproximei, apresentei-me. Devia ter uns oitenta anos. Pequenino, magro, elegante, nobre. Fiquei com ele durante todo tempo, impressionado com aquele saber enciclopédico. Não o conhecia. Nunca tinha ouvido falar nele. Ele morava na Vieira Souto, frente para o mar, em Ipanema. Bairro nobre. Pediu-me o endereço e foi, ele mesmo, levar-me alguns livros seus, que deixou na portaria. Escreveu dezenas de livros. "Filósofos brasileiros", de 1939, é um pioneiro. Além de Pascal, Heiddeger etc, interessava-se por índios, mitos indígenas. Escreveu algumas peças de teatro, contos. Está traduzido para várias línguas e tem um livro sobre "O cinismo". Lembro-me de que perguntei por que estava morando
no Brasil. E ele disse: "A Bolívia tem um golpe de estado a cada dois anos". Para ele, os mitos "son la expresión de actitudes vitales, de sentimientos y de experiencias que se manifiestan como convicciones cuya certeza es tal que pasan a ser tenidas como sagradas, como evidentes por sí mismas, situándose en un plano que las aleja de cualquier intento de crítica racionalizada" (pp. 7-8). Los mitos representan, por lo tanto, una categoría especial en el discurso axiológico de cualquier pueblo; se refieren siempre a vivencias dotadas de un fuerte fondo subjetivo, pero cuyos "contenidos están al alcance de cualquier persona ... [y] despiertan resonancias en el alma colectiva" (p. 11). "Los mitos profundos de Bolivia" (1980). Seu pai era europeu, sua mãe parece que índia. Foi bom reencontrar esta carta. Agora vou atrás do recorte do Jornal do Comercio de Manaus, onde eu escrevia, naquela época.

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