O SELO DOS POETAS
Rogel Samuel
Outro dia vi um selo. Pensei que era Bilac. Não. Não era. Era Gustavo Lacerda. Fundador da ABI. Da qual foi Presidente de 1908 a 1909. Os jornalistas hoje têm prestígio. Os poetas não. Não têm tanto prestígio. Nas livrarias os poetas brasileiros desaparecem. Estão escondidos, envergonhados. O Brasil não tem orgulho dos seus poetas. Conheci dois poetas em Walden, NY, quando por lá estive durante todo o mês de julho de 2003. Um era um rapaz muito novo, com os cabelos muito longos e já famoso poeta: ganhara o “Prêmio de Poesia de Nova Iorque”, com um excelente livro, que me deu. Já escrevi sobre ele uma crônica. Chama-se James Hopkins. A outra era uma poetisa (prefiro poetisa) que preparava sua obra ainda inédita. Não trabalhava, estudava letras, mas de maneira livre e não formal. E escrevia. Escrevia com uma caneta Parker antiga. Num caderno aramado onde escrevia versos e fazia alguns desenhos. Aquela menina era muito interessante. Acreditava na sua profissão. Profissão de poeta. Não sei de que vivia, pois não trabalhava. Mas americano é assim mesmo, vive de muitas maneiras. Talvez tivesse família. Mas não tinha muito dinheiro, porque como eu estava sem carro e por isso tínhamos dificuldade de nos locomover em Walden. Andava comigo, a pé. Andávamos longamente. Íamos do seminário que estávamos fazendo ao “hotel” onde nos hospedávamos. Que não era um hotel propriamente dito, mas um convento de freiras francesas que alugavam excelentes quartos. Caminhávamos à pé pela estrada até lá. Havia um detalhe no caminho que nos incomodava: um leão. Sim, um leão enjaulado de um circo que estava apresentando-se ali. O leão enjaulado nos olhava às vezes meio enfastiado como todo leão enjaulado. Mas era uma agressividade contida, um furor posto nos ferros, ainda que de circo. Minha amiga poetisa não se sentia bem ao passar por ali. Um leão enjaulado não é lirismo.
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