O trabalho, a atividade mais transversal da humanidade
O trabalho, a atividade mais transversal da humanidade
EMIR SADER
O homem se distingue dos outros animais por
várias coisas, mas a determinante é que o homem tem capacidade de
trabalho. O homem transforma o mundo, o meio que o cerca, através do
trabalho, para encontrar as formas de sua sobrevivência e para amoldar o
mundo conforme os seus projetos. O homem tem o poder de humanizar a
natureza, enquanto os outros animais apenas recolhem o que encontram na
natureza ou fazem trabalhos puramente mecânicos e repetitivos, sem
criatividade – como os casos das formigas e das abelhas.
O
progresso humano foi resultado do trabalho humano, embora o trabalho,
nas sociedades existentes ate’ aqui, seja, um trabalho alienado, em que
os trabalhadores nao possuem os meios de produção para plasmar seu
trabalho conforme suas decisões conscientes. Tenham que submeter a ser
explorados pelos que nao produzem, mas possuem capital suficiente para
ter meios de produção que explorem o trabalho alheio.
A
transformação do mundo só pode ser explicada pela evolução do trabalho
humano, da capacidade humana de modificar o mundo que o cerca. O homem
foi escravo da natureza durante séculos e séculos, acordava quando havia
luz e dormia quando ela terminava. Era vítima inerte das catástrofes
naturais.
O trabalho humano é a fonte da construção das riquezas,
dos bens de que o homem dispõe. Se pudesse decidir livremente, de forma
consciente e democrática, o destino do seu trabalho, o mundo seria –
será – muito destino, humanizado.
No entanto, a crítica de
concepções tradicionais, que buscavam reduzir todas as contradições das
nossas sociedades à contradição capital-trabalho, como se as outras – de
gênero, de etnias, entre outras – se resolvessem automaticamente quando
fosse resolvida aquela contradição, levou à critica da centralidade
exclusiva das contradições do mundo do trabalho. Afloraram contradições
que sempre existiram, mas que ficaram escondidas pelas lutas dos
trabalhadores contra a exploração. Surgiram os novos movimentos sociais –
das mulheres, dos negros, dos indígenas, dos quilombolas, das diversas
formas de sexualidade, do meio ambiente, entre outros.
Ao mesmo
tempo, as transformações ocorridas no mundo, com o desaparecimento do
campo socialista e a expansão sem limites do capitalismo, representaram
uma ofensiva brutal contra os trabalhadores e o mundo do trabalho. A
simples possibilidade dos capitais de se deslocarem para qualquer lugar
do mundo para explorar mão de obra nas condições mais brutais, já
representa uma violência brutal contra os direitos dos trabalhadores.
O
conjunto desses fatores levou à diminuição de importância do mundo do
trabalho – invisibilizado pela mídia -, os próprios estudos sobre o
mundo do trabalho perderam muito importância, justamente quando exigem
muito mais investigação, porque as formas de exploração do trabalho se
tornaram muito mais complexas e diversificadas.
Nunca como na
atualidade tanta gente vive do seu trabalho, por mais heterogêneos que
eles sejam. Homens e mulheres, negros, brancos, indígenas, idosos e
crianças, todos trabalham. A riqueza humana continua a ser produzida
pelo trabalho humano.
A maioria esmagadora da humanidade gasta
grande parte do seu tempo de vida trabalhando – para enriquecer algumas
outras pessoas -, a atividade do trabalho é a que ocupa a esmagadora
maioria das pessoas e do seu tempo de vida. O trabalho é a atividade
transversal que cruza países, classes etnias, gêneros, idades.
O
trabalho precisa voltar a ganhar a centralidade que requer, sem deslocar
por isso as outras contradições, mas se articulando com elas. Somente
assim a grande luta contra a exploração do trabalho, a alienação do
trabalho e da consciência humana, poderá avançar na luta pela
emancipação humana.
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