SONETO
AO ZERO
JORGE TUFIC
Um
pedaço de cruz, uma tigela,
algo
que sobra do luar perdido,
a tinta
que não deu para uma tela,
o
que fica de um gesto pretendido;
a
nota curta de um gorjeio tido
por
dono da floresta ausente e bela;
uma
lembrança neutra de algum ido
que
assomou de repente na janela;
meus
sapatos cozidos pelas rotas
que
imagino fazer mas nunca faço,
alguma
coisa que sequer havia,
valem
pelo que são: aves ou botas,
em
qualquer travessia dão seu laço
este
laço do evento com a poesia.
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