sábado, 19 de maio de 2012

SONETO AO ZERO

SONETO AO ZERO

JORGE TUFIC

Um pedaço de cruz, uma tigela,
algo que sobra do luar perdido,
a tinta que não deu para uma tela,
o que fica de um gesto pretendido;

a nota curta de um gorjeio tido
por dono da floresta ausente e bela;
uma lembrança neutra de algum ido
que assomou de repente na janela;

meus sapatos cozidos pelas rotas
que imagino fazer mas nunca faço,
alguma coisa que sequer havia,

valem pelo que são: aves ou botas,
em qualquer travessia dão seu laço
este laço do evento com a poesia.

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