sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
CHAMP DE MARS
CHAMP DE MARS
ROGEL SAMUEL
E somente porque fazia sol naquela tarde
eu não queria mais voltar pro meu país,
e somente porque fazia sol naquele canto
oh, naquela mesma imensa canção
com que, há vários anos, venho para o mesmo Campo
de Marte, em frente à Torre de Vidro
que à noite brilha como se feita
de estrelas faiscantes,
e estava, nas minhas costas
a Escola Militar onde Napoleão estudou
e na minha frente o “mur de la paix”,
inspirado no muro das lamentações,
soprando naquele panteon de assinaturas
em várias línguas dizendo a paz.
Longe a imensa Torre.
Meu pai a viu,
meu avô a viu.
A imensa Torre
aponta o céu.
(À noite brilha como se feita
de estrelas faiscantes).
Há um júbilo de estar
de ainda estar ali
depois de tantos anos
depois de tantos dias escuros e frios.
Num dia de sol.
O frio se recolheu dentro de mim.
Sofro por estar em comunhão
e porque gostaria de ficar
(não só)
porque gostaria de que Paris fosse
o subúrbio de Manaus,
que já foi no tempo do meu avô Maurice,
(no teto do Teatro Amazonas
se vê a Torre Eiffel, vista de baixo).
Sofro porque gostaria de ficar,
entre amigos
com o Cláudio Rosa, a Leila Míccolis, a Neuza Machado.
Mas em seis dias me vou,
ficará o mesmo jeito de ser
daquela ponta de praça
a mesma imensa área,
com aquele intuito amplo de conter o mundo
de a tudo reunir.
Na minha contemplação
a vida estranha
(À noite a Torre brilha como se feita
de estrelas faiscantes).
Vida estranha.
Mundo estranho.
Faz sol.
(Paris, 9 de novembro de 2006).
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