No centenário de Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa completaria 100 anos.
Sua obra máxima, “Grande sertão: veredas”, narra a relação real/irreal (Riobaldo/Diadorim) como possibilidade. Diadorim - o objeto, abrangente, cujo sentido escapa sempre, que busca o inconcebível, o que não teve raízes, a misteriosa obscuridade. Desconsolida a condição humana, deixada a descoberto. Um não-ser, uma existência dissolvida, separada dos sistemas do racionalismo, desprotegida. Diadorim - a vitória da emoção dos dramas particulares e anti-heróicos que fizeram o triunfo do romantismo. Como personagem, não se insere num contacto social sistemático, num sistema amplo, num modelo.
“Hoje em dia, não me queixo de nenhuma coisa”, “já não tiro sombra dos buracos” — hoje o sertão desencantado, lentamente se aburguesa, moderniza-se, banaliza-se. Outra a lógica do sertão, o oposto da evidência, lugar de herói trágico.
Agora o sertão ganha nova figura, desaparece. No interior estão instalados aparelhos da TV, porque o sertão era um perigo para a ordem estabelecida, e agora se desencanta, desperta do misticismo. O sertão era místico, mitico e crítico. Lugar das rezas, de Antônios Conselheiros, de Padres Cíceros. O sertão, império da moral, da virgindade. Mas também da guerra. Sertão sagrado. O mundo no seu estado subjetivo. Até bem pouco tempo, eu o vi, não conhecia nem os ecos da primeira revolução industrial. Estava na fase semi-medieval do estado comercial. Havia “reis”, no sertão subjetivo.
Agora é passado, e sempre esteve no passado, nunca projetou-se no futuro. Lírico, subjetivo. A grande maioria dos escritores brasileiros passaram a infância nas casas grandes da subjetividade passada. O sertão do passado tem a pátina da magia dos primitivos desígnios do homem, das primeiras experiências, da emoção dos que sonhavam nas varandas. Por isso, faz com a infância sua subjetividade literária. O heróis nunca serão adultos, velhos, morrem antes, não amadureceram, jovens nos caminhos da guerra. Todo sertão tem de ser assim, visto pelos olhos do sonho, algo perdido, perdido no tempo, longínquo, remotíssimo.
Veredas.
Sua obra máxima, “Grande sertão: veredas”, narra a relação real/irreal (Riobaldo/Diadorim) como possibilidade. Diadorim - o objeto, abrangente, cujo sentido escapa sempre, que busca o inconcebível, o que não teve raízes, a misteriosa obscuridade. Desconsolida a condição humana, deixada a descoberto. Um não-ser, uma existência dissolvida, separada dos sistemas do racionalismo, desprotegida. Diadorim - a vitória da emoção dos dramas particulares e anti-heróicos que fizeram o triunfo do romantismo. Como personagem, não se insere num contacto social sistemático, num sistema amplo, num modelo.
“Hoje em dia, não me queixo de nenhuma coisa”, “já não tiro sombra dos buracos” — hoje o sertão desencantado, lentamente se aburguesa, moderniza-se, banaliza-se. Outra a lógica do sertão, o oposto da evidência, lugar de herói trágico.
Agora o sertão ganha nova figura, desaparece. No interior estão instalados aparelhos da TV, porque o sertão era um perigo para a ordem estabelecida, e agora se desencanta, desperta do misticismo. O sertão era místico, mitico e crítico. Lugar das rezas, de Antônios Conselheiros, de Padres Cíceros. O sertão, império da moral, da virgindade. Mas também da guerra. Sertão sagrado. O mundo no seu estado subjetivo. Até bem pouco tempo, eu o vi, não conhecia nem os ecos da primeira revolução industrial. Estava na fase semi-medieval do estado comercial. Havia “reis”, no sertão subjetivo.
Agora é passado, e sempre esteve no passado, nunca projetou-se no futuro. Lírico, subjetivo. A grande maioria dos escritores brasileiros passaram a infância nas casas grandes da subjetividade passada. O sertão do passado tem a pátina da magia dos primitivos desígnios do homem, das primeiras experiências, da emoção dos que sonhavam nas varandas. Por isso, faz com a infância sua subjetividade literária. O heróis nunca serão adultos, velhos, morrem antes, não amadureceram, jovens nos caminhos da guerra. Todo sertão tem de ser assim, visto pelos olhos do sonho, algo perdido, perdido no tempo, longínquo, remotíssimo.
Veredas.
ROGEL SAMUEL
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