CLARISSE DE OLIVEIRA
COMEÇO DE TARDE
O novo horário do Rio, despertou minha fome.
Sentei-me à mesa rústica, de vinhático, enquanto
o caseiro fritava pastéis de queijo, que, seriam
acompanhados por batatas em salada e tomates,
também em salada.
Pela porta aberta da sala, eu via o jardim.
A bananeira-em-leque, deixava passar as manchas
de sol sobre a água da pequena piscina.
Os cachorros se acomodaram aos meus pés, no
aguardo da minha refeição, onde iam degustar
as pontas dos pastéis.
Eu ouvia o barulho da diarista lavando roupa no
tanque, na parte de trás da casa.
As moscas, em volta, anunciavam chuva para o
começo da noite.
Após o almoço, escurecí o quarto, liguei o venti-
lador e repousei no bárbaro calor.
Ouvindo um ou outro galo cantar, me veio a ima-
gem da grande Fazenda que ora é o lugar onde
resido.
Vi, de imediato, uma estrada de terra; nela passava
uma africana com uma bacia de metal na cabeça,
cheia de roupa lavada em um dos ribeirões que
descem das montanhas, em direção aos rios en-
caixoeirados que se unem no centro do vale que é
a Vargem.
Atrás da mulher, vinham umas crianças nuas e uns
cachorros.
Ela se dirigiu para um pátio calçado de pedra, e
começou a estender a roupa, que erguia depois,
sustentada por varáis de bambú.
Para o vegetariano, a Fazenda é cruel.
A matança dos animais, o cheiro do sangue empas-
tado no chão da degola e da esfoladura das peles,
os miudos dos porcos para as linguiças de fumeiro
penduradas sobre a fumaça dos fogões de lenha,
mas,
era bom ver o queijo defumado embalançando
sobre um dos fogões, pois, as cozinhas das casas
grandes, tinham mais de um fogão - o bule de café
sobre a chapa, sempre quente para um gole, as
cercaduras de madeira aguardando o cozimento
lento no alguidar de cobre, das goiabas cortadas
em combuquinhas, vazias de seu miolo molhe
cheio de carocinhos, que iam compor a calda,
que ia unir a massa para a goiabada então, apa-
nhada por uma imensa pá de madeira, enchendo
os moldes para os tijolos de goiabada.
As redes penduradas nas compridas varandas.
Os oratórios perdidos entre as grandes salas.
E tudo isso emoldurado pelo passado e do terreno
onde moro e que já foi Fazenda, só sei de um
morto:
Vitória, a filha de Gonçalo de Sá,
sobrinho do fundador do Rio de
Janeiro, e que está enterrada
bem longe daqui, na Praça Mauá,
nos jardin do Mosteiro de São
Bento.
As tardes induzem à meditação e à nostalgia.
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