quarta-feira, 14 de março de 2012

Euclides da Cunha - O rio na plenitude da vida

É a fase de madureza. O rio está na plenitude da vida, depois da
molduragem complexa de todos os relevos. Atinge-a rematando um

esforço pertinaz, que é por vezes toda a história geológica da

região.

Não houve um ponto em todo o percurso de centenares ou de milhares

de quilômetros que ele não atacasse, um grão de areia que não

removesse, balanceando as escavações a montante com os aterros a

jusante - construindo-se a si mesmo - obediente à tendência

universal para as situações estáveis. Adquiriu, por fim, o seu

perfil longitudinal de equilíbrio, e este, ainda abrupto nas

vertentes, onde a correnteza é máxima e o volume mínimo, vem

continuamente amortecendo-se, em sucessivo decair de declive, até ao

quase horizontalismo no nível de base, da foz, onde aqueles

elementos se invertem, resultando o equilíbrio dinâmico do sistema

da relação inversa entre as massas liqüidas e as velocidades que se

arrastam.

Como quer que seja, desde que alcança este período, todos os

elementos do seu talvegue, projetados em plano vertical, desenham-se

com a forma aproximada de um ramo de desmedida parábola, de

concavidade volvida para as alturas.

Assim se traduz geomètricamente um fato mecânico complexo. E bem que

a tendência para aquela figura seja em geral perturbada ou extinta

nas camadas de resistência variável, onde as rochas desvendadas

originam o antagonismo das cachoeiras, é inegável que a curva

parabólica se delineia nos terrenos homogêneos como sendo a forma

definitiva da secção longitudinal de todos os rios no remate de suas

vicissitudes evolutivas.

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