segunda-feira, 19 de março de 2012

NERUDA


ERCILA


Trad. R. Samuel

Pedras de Arauco e desatadas rosas
fluviais, território de raízes
se encontra com o homem que chegara de Espanha.
Invadem sua armadura com gigantesca líquem.
Impedem sua espada as sombras samambaias.
A hera original põe mãos azuis
no recém-chegado silêncio do planeta.
Homem, Ercilla sonoro, ouço o pulso da água
do teu primeiro amanhecer, um frenesi de pássaros
e um trovão na folhagem.
Deixa, deixa tua marca
de águia rubra, destroça
a tua bochecha contra o milho selvagem,
tudo será na terra devorado.
Sonoro, só tu não beberás do cálice
de sangue, sonoro, só ao rápido
fulgor de ti nascido 
chegará até a secreta boca do tempo em vão
para dizer-te: em vão.
Em vão, em vão 
Sangue pelas ramagens salpicados
em vão pelas noites do puma
o desafiante passo do soldado,
as ordens,
os passos
do ferido.
Tudo volta ao silêncio coroado de plumas
Onde um distante rei consome trepadeiras.
 

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