Nestes termos
reflexivo-interpretativos, a partir daí, surge uma pergunta: Castelnau
descreveu miticamente os Numas Indomáveis (possivelmente, uma das tribos
ainda hoje isoladas, desconhecidas) ou descreveu realmente mulheres
índias belicosas, comparadas com as lendárias amazonas guerreiras da
Grécia Antiga? A verdade é que, ao longo da busca teórico-histórica
restrita à época assinalada pelo escritor, não distingui nenhuma
informação quanto à possibilidade de existência desta aludida tribo
indígena e o encontro da mesma com os aventureiros citados, entre as
muitas nações silvícolas da localidade apontada, inclusive, em relação
às tribos originárias dos Andes, tribos estas oriundas da dominação
espanhola (anos iniciais da Era Moderna) fronteiriça à região amazônica
brasileira (Peru e Bolívia). No entanto, sobre o mito de um grupo de
índias brasileiras de ânimo aguerrido, também conhecidas como amazonas
guerreiras (inseridas no título do romance), existem muitas informações
mítico-históricas. Por conseguinte, depois das reflexões
teórico-críticas, buscando solucionar o assunto, pude perceber uma
ligação dos Numas invisíveis com o título do romance, uma vez que o
escritor, por sua formação humanístico-literária, foi certamente um
circunspecto estudioso da mitologia indígena de sua região de
nascimento, incluso também o conhecimento de outros arcabouços míticos
da humanidade. Por este aspecto, percebo o romance O Amante das Amazonas
firmemente associado ao escritor-narrador, enquanto apreciador (amante
intelectual) das heróicas narrativas indígenas, as quais povoaram o seu
imaginário infanto-juvenil nos anos em que ali viveu, além de conhecedor
inconteste das inúmeras formações mítico-religiosas tanto do Oriente
quanto do Ocidente. Assim, pelo meu ponto de vista
crítico-interpretativo, as “amazonas” do título seriam os próprios
índios Numas (homens e mulheres indistintamente), criativamente
desrealizados por seu apreciador ficcional. Entretanto, tal afirmação
será reinterpretada, a seguir, quando, por tal causa, buscarei
conhecimentos histórico-lendários esclarecedores a respeito do mito das
gregas amazonas guerreiras, mito este plantado aqui no Brasil por
exploradores estrangeiros, desde o início da colonização. Por via
histórico-interpretativa, manifesta-se o conceito de que os míticos
Numas foram formalizados ficcionalmente a partir de anteriores relatos
lendário-familiares, intensificados pelas doutrinações totalitárias
amazonenses, impositivas, e pelas intermitentes transmissões da
literatura oral e escrita, pois, segundo a ficção aqui assinalada, “não
ficavam visíveis, às claras, de frente, nítidos, senão de viés,
difusamente entrevistos, só pressentidos na obliqüidade do olhar”.
“Não
ficavam visíveis, às claras”. Como posso detectar o sentido oculto dos
invisíveis e indomáveis Numas desta narrativa? Que são os Numas? Seriam
eles, verdadeiramente e geograficamente, por via de acomodamento
fonético-vocabular, os inconfundíveis Iauanauas (ou Yamináua ou Jaminaua
ou Jamináwa) do Rio Gregório, detectados etnograficamente? Ou seriam o
subgrupo isolado também chamados de Iauanauas, da cabeceira do Rio Acre,
mas tribo diferente da população do Rio Gregório? Segundo dados
governamentais, existe também um grupo indígena, peruano e boliviano,
chamado Iauana, não reconhecido pelos governos de lá, mas incluído na
relação de índios brasileiros do subconjunto Pano setentrional, isolado,
dos Rios Jandiatuba e Jataí. No âmbito das suposições
teórico-interpretativas, os Numas mítico-ficcionais poderiam provir
dessas tribos isoladas, as quais viviam, e ainda vivem em menor número,
em jurisdições estabelecidas na região interregno do Estado do Acre com o
Departamento Ucayali, no Peru.
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