Assim se erigiu recentemente a Ilha de Cururu, com dois km² de
área; e se reconstroem todas as que se observam acima dos canais de
Breves.
Mas formam-se para se destruírem, ou desocarem-se incessantemente.
As ilhas trabalhadas pelas mesmas correntes que as geraram,
desbarrancam-se a montante e restauram-se a jusante, e vão lento e
lento derivando rio abaixo, ao modo de monstruosos pontões
desmastreados, de longas proas abatidas e pôpas altas, a navegarem
dia e noite com velocidade insensível. Por fim, desgastam-se e
acabam. A de Urucurituba durou dez anos (1840-1850) mercê da
superfície vastíssima; e apagou-se numa enchente...
O mesmo fato, nas margens. Os litorais do Amazonas mal lhe definem a
calha desmedida. São margens que evitam o rio. Ficam-lhe,
normalmente, fora das águas, para além das vastas planuras
salpintadas de “lagos de terra firme”, que atenuam, feito
compensadores, a violência das caudais, nas cheias. Aí, num cenário
mais amplo, se desdobra por vezes a aparência de uma construção, em
larga escala, de solo. O rio, multífluo nas grandes enchentes, vinga
as ribanceiras e desafoga-se nos plainos desimpedidos. Desarraiga
florestas inteiras, atulhando de troncos e esgalhos as depressões
numerosas da várzeas; e nos remansos das planícies inundadas,
decantam-se-lhe as águas carregadas de detritos, numa colmatagem
plenamente generalizada. Baixam as águas e nota-se que o terreno
cresceu; e alteia-se de cheia em cheia, aprumando-se as “barreiras”
altas, exsicando-se os pantanais e “igapós”, esboçando-se os
“firmes” ondeantes, para logo invadidos da flora triunfal... até que
num só assalto, de enchente, todo esse delta lateral se abata.
Numa só noite (29 de julho de 1866) as “terras caídas” da margem
esquerda do Amazonas desmoronaram numa linha contínua de cinqüenta
léguas.
À MARGEM DA HISTÓRIA
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