Poeminha Última Vontade
Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a laje do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.
Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Sol e chuva ocasionais,
Estes sim, imortais.
Até que um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr
(ENVIADO POR AMELIA PAIS)
5 comentários:
No meu caminho pela Literatura foi, primeiro, Rubem Braga aquele que me-sensibilizou com suas crônicas e poemas, lidos em um caderno dominical de um jornal daqui do Piauí; mas, escuro (claro!), foi Millôr, pelas páginas de revista nacional, quem me-ensinou exemplos de irreverência tanto no conteúdo, quanto tonta a gramática, de tanto apanhar do Guru do Méier. Definitivo, Millôr é assim.
Rogel, sei lá o que dizer...
Rogel, sei lá o que dizer...
Bela escolha, Rogel.
Esse era o Millor. O humor sempre presente.
Beijos
Mirze
obrigado, amigos
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