sexta-feira, 16 de março de 2012

Gabriel Garcia Márquez - 85 anos


Por Mirodi Hamada
Nascido em 6 de março na cidade de Aracataca na Colômbia, o décimo primeiro filho de um recém formado farmacêutico, se viu desde cedo a beira de um mar de experiências maravilhosas e histórias incríveis que lhe eram contadas pelos seu avós maternos. Seu avô, o coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía, um veterano da guerra civil colombiana partilhou suas memórias militares, e sua avó, Tranquilina Iguarán, se ocupava em narrar fábulas e lendas mágicas que revelavam sua religiosidade.
Mas não se pode atribuir a eles a gigantesca capacidade de García Márquez de coletar miudezas da realidade e conta-las como verdadeiros absurdos humanos (até porque quantos de nós não passamos a infância ouvindo histórias sem as dar valor?), que ainda que sobrenaturais e fantásticas, fez uma geração cética e racional se identificar com os conflitos e se surpreender com a própria realidade.
Na escola, Gabriel teve como professor de literatura Carlos Julia Calderón Hermida, a quem dedicou seu romance “O Enterro do Diabo”, e a quem também atribui a maior influência na sua escolha de se tornar escritor. Cursou direito inicialmente na Universidade Nacional, por insistência dos pais, mas logo passou a estudar jornalismo onde assumiu uma coluna diária no jornal “El Universal”. Não chegou a se graduar.
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Uma vez trabalhando como jornalista tanto para o “El Universal” quanto para o “El Espectador”, este último onde se tornou o primeiro crítico de cinema do jornalismo colombiano e depois um brilhante cronista e repórter, G. Márquez publica seus primeiros contos e passa a viajar pela Europa como correspondente do jornal. Nessa mesma época publica, o que foi publicado primeiramente como uma reportagem, “Relato de um Náufrago” que conta a história real do naufrágio de Luis Alejandro Velasco. Retorna para a América Latina, morando na Venezuela, Cuba, e depois parte para Nova Iorque e então para a Cidade do México.
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Carlos Fuentes, escritor mexicano, conta que em 1966 quando voltava de um balneário em Acapulco, García Márquez alcançou a inspiração para escrever o romance que ruminava há mais de uma década. Abandonou o emprego, e se dedicou inteiramente por 18 meses, oito horas todos os dias nas páginas de Cem Anos de Solidão, que retrata a fantasista infância de Gabriel García Márquez.

Cada personagem carrega uma mistura das particularidades da família e conhecidos de Gabriel, desde a febre da banana que se alastrou pela região de Aracataca e trouxe seu pai, um imigrante sonhador e aventureiro, assim como José Acardio Buendía, que via nos bananais a chance que também viam os estrangeiros que chegavam a Macondo. Seu avô coronel, um dos fundadores da cidade de Aracataca, recebia seus antigos soldados e companheiros militares em casa como o fazia o coronel Aureliano Buendía. Ursula Iguarán se inspira em Tranquilina, que não apenas empresta o apelido Ursula para a personagem como também a própria personalidade. E não se pode esquecer a casa dos Buendía, que por si só já é um gigantesco protagonista baseado no casarão dos avós, e que se lembra G. Márquez : “En cada rincón había muertos y memorias, y después de las seis de la tarde la casa era intransitable. Era un mundo prodigioso de terror (...) En esa casa había un cuarto desocupado donde había muerto la tía Petra. Había un cuarto donde había muerto el tío Lázaro. Entonces, de noche no se podía caminar en esa casa porque había más muertos que vivos”.

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Em 1982, recebe o Prêmio Nobel de Literatura, o qual estava sendo disputado com grandes nomes europeus da literatura, o escritor inglês Graham Greene e o alemão Günther Grass. No recebimento do prêmio, discursou “A Solidão da América Latina” e cantou seu amor dizendo:
“Ouso dizer que é esta desproporcional realidade, e não apenas sua expressão literária, que mereceu a atenção da Academia Sueca de Letras. Uma realidade não de papel, mas que vive dentro de nós e determina cada instante de nossas incontáveis mortes de todos os dias, e que nutre uma fonte de criatividade insaciável, cheia de tristeza e beleza, da qual este errante e nostálgico colombiano não passa de mais um, escolhido pelo acaso.
Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e canalhas, todas as criaturas desta indomável realidade, temos pedido muito pouco da imaginação, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios concretos para tornar nossas vidas mais reais. Este, meus amigos, é o cerne da nossa solidão.

O nostálgico colombiano escolhido ao acaso foi capaz de distorcer maravilhosamente a existência e transparecer as superstições e dores de uma maneira, que mesmo em mundos fantasiosos e imaginários, tudo ainda é perfeitamente real e palpável. Gabriel retirou de cada aspecto factual camadas enrijecidas de significados rasos e controláveis, e procurou expor antes de tudo uma beleza extraordinária através de cesuras no que é simplesmente humano.

Desde 2009, Gabriel García Márquez está aposentado, morando ainda na Cidade do México e nesse mês de março completou seus 85 anos.
Àquele que foi atento e sensível às suas raízes, dando valor aos heróis particulares de sua vida, celebrando-os e marcando-os imortais dentro de suas pequenas importâncias e grandes existências, parabéns.
"...e que em qualquer lugar que estivessem se lembrassem sempre de que o passado era mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso, que toda primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera."
Cem anos de solidão,Gabriel García Márquez.



 

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