sexta-feira, 8 de novembro de 2013

HOMENAGEM A JORGE DÓRIA

 
 
 
ROGEL SAMUEL  "TEATRO AMAZONAS"
 
 
Um dia, a Comissão Administrativa foi reunida às pressas, por ordem do Secretário de Estado, o dr. Fileto Pires Ferreira. Ao gabinete do Secretário compareceram Leovegildo Coelho, João Antony, Charles Brisbin, o Dr. Canavarro, Diretor de Obras Públicas, e os representantes de Rossi & Irmãos.

 

 Fileto Pires Ferreira era o grande gerente do Governo Eduardo Ribeiro. Virá ser o seu sucessor. Graças a ele, o governo pôde fazer várias grandes obras ao mesmo tempo, combatendo a corrupção e fazendo aquela cidade moderna no meio das selvas. Eduardo Ribeiro era um governador incansável, mas tinha intermitentes surtos de loucura, demência e crises nervosas, quando ficava irreconhecível, ansioso e agressivo. Naqueles momentos Fileto Pires assumia e era imprescindível para organizar tudo e resolver a crise. Ninguém sabia disso. Eduardo Ribeiro tinha completa confiança em Fileto Pires. Fileto confiava no Governador. Fileto chegou até a deixar um papel assinado em branco nas mãos de Eduardo Ribeiro, o que seria de conseqüências catastróficas no futuro para Fileto. Este documento em branco assinado caiu nas mãos dos adversários políticos quando Fileto era governador do Amazonas e estava em Paris para tratamento médico. E ali forjada uma carta de renúncia ao governo e Fileto foi deposto por um golpe branco. 

 

 Fileto Pires Ferreira era um homem elegante, magro, culto, testa sonhadora, grandes bigodes tipo Nietzche e muito gentil com todos ao redor. Alguns o chamavam de dândi, uma espécie de playboy da época. Mas Fileto era um homem sério, de raciocínio rápido, matemático, positivo, e acabou a vida como general, no Rio de Janeiro. Pertenceu ao círculo de jovens oficiais que subiu ao poder após o 15 de Novembro no Brasil. Era natural do Piauí. Nasceu em Barras, a 16 de março de 1866, filho do Capitão Raymundo de Carvalho Pires e D. Lydia de Santana Pires. Fez seus estudos em Teresina e iniciou sua formação militar em Porto Alegre, em 1884. Transferido no ano seguinte para o Rio de Janeiro, veio a tomar parte da preparação do movimento republicano de Benjamim Constant. Dirigiu um manifesto de solidariedade a Benjamim Constant. A 15 de novembro de 1889, estava entre os oficiais da 2a Brigada junto a Deodoro, para depor o Gabinete Ouro Preto, o que resultou na proclamação da República do Brasil. Em 1890, Fileto foi mandado para o Amazonas, para trabalhar com Augusto Ximenes de Villeroy, Governador nomeado pelo Governo-Provisório, em substituição à Junta que assumiu o poder com a proclamação da República. Ao chegar à Manaus, o tenente Fileto Pires foi nomeado Superintendente Municipal de Tefé. Regressou ao Rio de Janeiro, concluindo em 1891 sua formação militar, com o título de Bacharel em Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Temporariamente fora do serviço ativo do Exército, esteve em Minas Gerais, como engenheiro ferroviário. Logo após o golpe de Estado de Deodoro, Fileto Pires foi chamado ao serviço ativo do Pará. Em viagem, soube da queda de Deodoro e ascensão de Floriano. Deste recebeu ordem de seguir para Manaus. Assim Fileto Pires estava em Manaus quando foi deposto o governador do Amazonas Thaumaturgo de Azevedo, que tinha aderido ao movimento do Marechal Deodoro e agora se via incluído na lista negra dos governadores a serem depostos no contra-golpe de Floriano.  Thaumaturgo de Azevedo era da mesma cidade de Fileto, Barras do Marataon, no Piauí. Thaumaturgo nasceu em 1853 e Fileto em 1866. Os dois se conheciam. 

 

Gregório Thaumaturgo de Azevedo foi o primeiro governador do Piauí, de 1889 a 1890. E governador do Amazonas de 91 a 92. Aborrecido com a luta política, demitiu-se do governo do Piauí depois de um excelente governo. O seu secretário de governo era Clóvis Beviláqua. Ofereceram-lhe o governo do Paraná. Recusou. Mas optou pelo Amazonas. Foi preso por Floriano, reformado, deportado para a fortaleza de São Joaquim do Rio Branco. Anistiado, voltou ao Exército, chefiou a Comissão de Limites com a Bolívia, que nos deu o Acre. 

 “Thaumaturgo de Azevedo é um grande estadista que merece ser reverenciado por todos os brasileiros”, escreveu Plácido de Castro. Foi prefeito do Alto Juruá, fundador da cidade de Cruzeiro do Sul, e Comandante da Brigada Policial do Rio de Janeiro. Ganhou a medalha de ouro Simão Bolívar. 

 

 Eduardo Gonçalves Ribeiro substituiu Thaumaturgo de Azevedo e assumiu o governo, a 11 de março de 1892. Convidou Fileto Pires para ser secretário do Estado.


(TEATRO AMAZONAS, CAP. 5)

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