quinta-feira, 14 de novembro de 2013

TEATRO AMAZONAS


 TEATRO AMAZONAS


Rogel Samuel





3. JOSÉ PARANAGUÁ - 1882

 O Presidente da Província José Paranaguá andava de um lado para outro com aqueles papéis e um leque nas mãos. Era um homem inquieto, nervoso, irritadiço, meio gago. Naquele momento tinha o projeto da construção do teatro de alvenaria nas mãos.

 Na sua frente, o deputado Fernandes Júnior o olhava com admiração e reverência. Paranaguá era de uma das famílias mais poderosas do país. O deputado aguardava, apoiado na mesa. Parecia calmo, sorridente, gentil, servil, e esperava que Paranaguá não tivesse um ataque de nervos, na sua frente.

 No forte calor da tarde, o governador suado agitava os papéis, o leque, levantando os braços no ar.

 - Você tem razão, meu caro, disse Paranaguá, ainda andando. “Você tem razão”. Ele tinha o hábito de repetir a mesma frase duas vezes e gostava de falar andando. “Peripateticamente”, dizia ele.
 - Mas... – disse ele.
 E não concluiu.


 Apertou a mão do deputado e o conduziu, empurrando-o, até a porta.
 - Eu o manterei informado, concluiu ele, conduzindo o outro pelo braço, dando-lhe amistosas tapinhas nas costas, enquanto punha Fernandes Junior gentilmente para fora.

 José Paranaguá era um homem ilustre e poderoso em todo o império.

 - Mas o quê, Excelência? – perguntou o deputado, já com o corpo todo fora do gabinete.

 - O seu projeto é muito modesto... MUITO modesto!

 E voltando a abrir a porta do gabinete gritou:
 - Eu o manterei informado. Eu o manterei informado!

 Logo que o deputado saiu, entraram João Antony e Leovegildo Coelho. O governador os fez sentar e passou-lhes às mãos o projeto de construção do Teatro Amazonas.

 O Teatro Amazonas estava ali, posto em papel, nascendo naquela mesa para ser uma casa de diversões de gente rica. Havia uma sociedade recentemente enriquecida que necessitava canalizar suas energias em festas, reuniões, diversão.

 Logo após, em junho de 1882, quando o gigantesco prédio ainda era um sonho, José Paranaguá sancionou a lei n. 567 de 10 de maio de 1882 que despendia 10 contos de réis (uma fortuna!) no contrato de uma companhia dramática.  Mas ainda não havia teatro.

 José Lustosa da Cunha Paranaguá era filho do Marquês de Paranaguá, Presidente do Conselho de Ministros do Brasil. Foi Presidente da Província do Amazonas por dois anos. Chegou em Manaus no dia 17 de março de 1882. No dia 28 de maio do mesmo ano foi explorar a região de Itacoatiara, acompanhado por Thaumaturgo de Azevedo e João Antony.

 Thaumaturgo de Azevedo estudou na Escola Militar de realengo, no Rio, e na Faculdade do Recife. Militar engenheiro e advogado, chegou a general e a governador. Teve vida política agitadíssima, cheia de altos e baixos.

 João Antony era um engenheiro amazonense de ilustre família. Foi político, desenvolveu uma carreira brilhante e honesta. Era pai do poeta Américo Antony.

 Em 1882 a comitiva de José Paranaguá saltou em Amatari à procura do cemitério dos índios Miracauuêra. Em 12 de julho subiu o Rio Negro. Explorou o rio Cuieires à procura dos índios Arauquis, dizimados em 1669 pelo Capitão Favela. Em 12 de setembro explorou o Baixo Amazonas, acompanhado por comitiva da qual fazia parte José Veríssimo.  Em novembro explorou o Purus. O governador era um explorador. Detestava burocracia.  Foi na administração dele que se começou a construir o suntuoso Teatro. A lei chamava concorrentes para a execução da planta e dotava 30 contos de réis para o início das obras, não mais orçadas em 60, nem em 120... Mas em 250 contos de réis.  Aquilo ficou esquecido durante o resto do ano.
 




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