quinta-feira, 10 de março de 2011
Tacacá, quase patrimônio
Nossa mais típica referência gastronômica está a um passo de se tornar um patrimônio cultural brasileiro
YÁSKARA CAVALCANTE
Da Redação
Que a apresentação é estranha, não dá para negar. Afinal, quem é que, à primeira vista, ignora uma um prato feito do fruto da cuieira (utensílio muito utilizado por índios), contendo goma, caldo extraído da mandioca, folhas de jambu e camarões secos? Se, para os paraenses, a iguaria é a delícia dos deuses, para paulistas, cariocas, baianos, mineiros e moradores do Brasil afora, o prato é visto como "comida de índio", "estranho", "difícil de encarar". Porém, é possível que tudo mude daqui para frente. É que o tacacá está a um passo de ser declarado Patrimônio Cultural Brasileiro, título concedido pelo Ministério da Cultura, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Integrando a luta para transformar o tacacá em patrimônio, uma exposição, montada na sede do Iphan, em Belém, mostra as curiosidades da iguaria, como o ofício de tacacazeira, que enche mulheres de orgulho e fazem a felicidade das tardes dos paraenses que não dispensam uma boa cuia com tucupi quentinho, jambu, camarões, goma e, claro, a inigualável pimenta. E por já ser considerado patrimônio imaterial, já que o ofício de tacacazeira é passado de geração a geração, o tacacá, talvez a mais paraense das iguarias típicas, tornou-se objeto de pesquisa a partir do trabalho de centenas de mulheres que aprenderam com suas bisavós, avós e mães a arte de fazer, preparar e servir a "sopa" como os turistas chamam uma das nossas mais deliciosas riquezas gastronômicas.
Há 43 anos trabalhando como tacacazeira no mesmo local, dona Maria do Carmo Pompeu dos Santos, assim como outras que compõem a lista que o Iphan usa para fazer a pesquisa cultural e artística, é um dos nomes mais expressivos quando o assunto é tacacá. "Quer pimenta?", perguntava ela, enquanto atendia a um cliente e à equipe do Magazine. Todo santo dia, dona Maria do Carmo vende cerca de 150 tacacás. Isso durante a semana. Quando chega o domingo, o número de cuias de tacacá vendidas passa de 300. Para fazer a delícia, a tacacazeira utiliza, em dias mais fracos - se é que eles existem! - nada menos que 40 litros de tucupi, 100 maços de jambu e 13 quilos de camarão. "Aos domingos, eu vendo o dobro", avisa, com orgulho.
RECEITA DE TACACÁ
por LUIZ BACELLAR
Ponha, numa cuia açu
ou numa cuia mirim
burnida de cumatê:
camarões secos, com casca,
folhas de jambu cozido
e goma de tapioca.
Sirva fervendo, pelando,
o caldo de tucupi,
depois tempere a seu gosto:
um pouco de sal, pimenta
malagueta ou murupi.
Quem beber mais de 3 cuias
bebe fogo de velório.
Se você gostar me espere
na esquina do purgatório.
(Receita de tacacá)
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