quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A invenção do futebol pelos índios Cambebas

(NA FOTO ADANA KAMBEBA)


A invenção do futebol pelos índios Cambebas

ROGEL SAMUEL

O futebol foi “descoberto” no Amazonas. Digo sempre isso.

Os Kambeba - ou Omágua (no Peru) - um grupo que deixou de se identificar como indígena e depois voltou a sê-lo com o crescimento do movimento indígena da década de 1980 e o reconhecimento dos direitos indígenas pela Constituição de 1988 – os Kambebas... inventaram o futebol.

Hoje, os Kambeba passaram novamente a se afirmar como índios e a lutar pelas causas indígenas.

Mas não lutam pelo título de inventores do futebol.

Eles “têm assumido uma posição destacada na região por sua grande capacidade de negociação e articulação política com outros grupos indígenas e com agências governamentais e não-governamentais, religiosas e laicas, da sociedade envolvente”.

Nesse ano de Copa, é lembrar alguns indiozinhos Cambebas que inventaram a bola, o futebol, a Copa, no Amazonas de 1744.

Como foi?

Quando La Condamine, em meados de 1744, descia o Rio Amazonas por inteiro, desde as montanhas peruanas até Bélem do Pará, viu uns indiozinhos jogando bola de látex, balata, na praia.

Maravilhou-se ele e trouxe a bola para a Academia das Ciências de Paris.

Lá, triunfante, jogou a bola no chão, num escândalo, para todos os sábios.

No dia seguinte, publicaram os jornais: "Estranho objeto desafia a lei da gravidade".

Ao látex, La Condamine chamou de "caoutchouc", dizendo viria a ser de grande valor industrial, e que os portugueses aprenderam dos omáguas, discípulos dos Incas, que já o conheciam, sua extração e beneficiamento.

Alguns autores dizem que Colombo já a conhecera no Haiti.

Assim afirma o Mestre amazonense João Nogueira da Mata, em "Biografia da borracha", de 1978, que tenho com sua dedicatória.

Lembro-me de Ademir da Guia. Não o jogador, mas o poema de João Cabral. Pois o látex é uma gosma grudenta como cola:

            Ademir impõe com seu jogo
            o ritmo do chumbo (e o peso),
            da lesma, da câmara lenta,
            do homem dentro do pesadelo.

            Ritmo líquido se infiltrando
            no adversário, grosso, de dentro,
            impondo-lhe o que ele deseja,
            mandando nele, apodrecendo-o.

            Ritmo morno, de andar na areia,
            de água doente de alagados,
            entorpecendo e então atando
            o mais irrequieto adversário.

Sobre os nossos índios, o poeta Jorge Tufic escreveu:

            “Da antigüidade seletiva dos tucanos,
            muras e cambebas?
            Lembras-te, por acaso,
            da bola de sernambi que estes últimos
            te deram, ainda em pleno século XVII,
            e do jogo que eles jogavam
            num campo sem traves e sem torcidas?

            Numa rede de dormir
            os brancos degustam teu massacre
            mas olvidam o teu legado,
            esse imenso legado que sucedera ao jugo,
            impiedoso e cruel,
            daqueles teus primeiros habitantes,
            plantadores de sombras,
            raízes da terra.

            A língua franca dos mitos
            e do lendário esquecido".

Os Cambebas são um grupo indígena que habita o médio rio Solimões, no estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente nas Áreas Indígenas Barreira da Missão, Igarapé Grande, Jaquiri e Kokama.

Na realidade, só existiam 347 cambebas em 2006.

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