sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

NEUZA MACHADO: ESPLENDOR E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO AMAZÔNICO


Entretanto, o narrador moderno descobriu que pensava porque
tinha “olhos” e mão poderosa (e, aqui, repito, refiro-me aos criadores excepcionais de um tipo de ficção que começou com Miguel de
Cervantes, no início do século XVII), aquele narrador da Era Moderna que instaurou, nos meios intelectuais de então, um gênero literário estreante atualmente conhecido por “narrativa em prosa” ou “narrativa ficcional”, para diferenciá-lo da epopeia (Gênero Épico) e das novelas medievais de cavalaria (lineares), escritas primitivamente em versos (posteriormente, adaptadas em prosa, para o gosto dos nascentes burgueses).O narrador moderno, cujos olhos o obrigavam a ver o momento incógnito de uma novíssima Era desconcertada, amedrontadora, intuiu que, por intermédio de uma perspectiva dialetizada, o seu ato de narrar
alcançaria camadas desconhecidas daquela realidade que lhe estava
próxima, escoltado por seu singularíssimo grau de conhecimento do
mundo e por sua capacidade de registrar, ao longo de sua narrativa,
palavras plurissignificativas, que levassem o leitor a pesquisar os seus vários significados, e, com isto, obrigando-o a interagir com a camada oculta do texto ficcional. O criador desse iniciante ardil ficcional foi Miguel de Cervantes, quando criou a expressão “moinhos de vento”, expressão que remete aos diversos obstáculos enfrentados por seu personagem principal, o Quixote (um herói decaído, impossibilitado de representar os antigos herois do passado medieval), acompanhado de seu fiel escudeiro Sancho Pança (o personagem-representante legal, racional, da Era que se iniciava). Como bem se pode avaliar, a origem da plurissignificação literária é ficcional; a forma poética lírica a
adotou, posteriormente, (A poesia lírica, inclusive a renascentista,
anterior ao século XVII, não é plurissignificativa; possui os fenômenos estilísticos do gênero lírico, mas não se vale da plurissignificação, um fenômeno literário da Era Moderna, a partir da estética barroca).


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