A
velha árvore em frente à minha janela foi completa, correta, perfeita,
extremamente gentil – ao desabar depois da tempestade não prejudicou
ninguém.
Para não atrapalhar o trânsito caiu no meio-fio, para
não amassar um carro segurou-se na fiação e galhos, para não por em
risco a vida das pessoas não se agarrou no cabo de alta-tensão, não caiu
sobre minha janela – foi perfeita, morreu heroicamente e nobre.
Nem sei quantos anos ela estava ali, belíssima, portentosa.
Vai fazer muita falta, para mim, para os pássaros e macaquinhos que por ela desciam. Para homenageá-la no seu túmulo recitei:
As Árvores
Na celagem vermelha, que se banha Da rutilante imolação do dia, As árvores, ao longe, na montanha, Retorcem-se espectrais à ventania.
Árvores negras, que visão estranha Vos aterra? que horror vos arrepia? Que pesadelo os troncos vos assanha, Descabelando a vossa rumaria?
Tendes alma também... Amais o seio Da terra; mas sonhais, como sonhamos, Bracejais, como nós, no mesmo anseio...
Infelizes, no píncaro do monte, (Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos À esperança e ao mistério do horizonte.
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