sexta-feira, 28 de março de 2014
NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE
NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE
SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL
O narrador atuante, nesta fase do romance, apresenta o personagem Pierre Bataillon, aos leitores de seu presente histórico e aos leitores do futuro, por meio de uma escrita que se constitui agregando à linguagem ficcional a técnica da linguagem visual cinematográfica. O desenrolar narrativo propulsor de sua ressurreição pela água, ao nascer do dia (sinal de que as trevas ígneas que protegeram/protegem os mistérios familiares e os raros símbolos começam a desvanecer-se), movimentar-se-á, de ora em diante, em favor de uma querela íntima que o incomoda: a perda dos puros valores míticos da tradição amazônica em confronto com os valores degradados da modernidade (últimos alvores da Era Moderna já em decadência). O incômodo se faz visível, uma vez que uma das questões centrais do romance, em suas duas partes iniciais (a forma de economia do Manixi ficcional/Amazônia real do início do século XX em confronto com a perda de antigos valores mítico-sociais), relaciona-se com a economia pré-zona franca da cidade de Manaus. Os pensamentos da pura estética do ar, como já expliquei anteriormente (elemento condutor para a alteração do exterior narrativo), aqui, acoplou-se à água revitalizante em benefício de um renovado direcionamento ficcional. À moda dos flashes cinematográficos, ou à moda dos desenhos em quadrinhos oriundos das artes plásticas, os quais revitalizaram a priori as imaginações juvenis do século XX, o Ribamar de Sousa sai do rio-conducente renovado, pronto para futuras peripécias ficcionais (pós-modernas). O narrador se apropria do olhar intelectual e da mão trabalhadora e do imaginário-em-aberto sui generis de seu criador, elementos próprios da escrita pós-moderna, descontínua e fragmentada, para assinalar a ocasião do encontro. O criador pós-moderno/pós-modernista de Segunda Geração, através de um avatar ficcional, está, no momento, vivenciando o rico passado da Amazônia (vivenciando o seu próprio rico passado cronológico-familiar) por intermédio de um presente histórico transfigurado. Por meio da dialética temporal (Bachelard) e do conhecimento da técnica da apresentação narrativa (essência épica), as cenas (“de vitrine”) oriundas de íntimas ondas elétricas e de especialíssimos raios de luz, se vão revelando, intermitentes (“flashes fracos, aparecem e desaparecem”), primeiramente diante dele e, posteriormente, diante do leitor, para, paradoxalmente, revelarem o apogeu e declínio do poder imperialista-capitalista no Amazonas.
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