domingo, 30 de março de 2014

APARIÇÃO DO CLOWN DE L. RUAS


APARIÇÃO DO CLOWN DE L. RUAS

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viagem

foi então que cheguei ao cais
e as barcaças estavam todas
amarradas ancoradas.
caronte me disse amargamente
– “não voltarão mais nem dante nem virgílio.
nem será dado a orfeu
ir salvar eurídice
a passagem está vedada
e as barcaças ancoradas
não mais navegarão por mares ignotos” –
quando olhei para o mar vi na praia
os escombros da batalha.
pontas de lança arcos flechas
corpos destroçados almas insepultas.
uma criança brincava com as conchas
e com a caveira de um herói
– se não me engano era de aquiles –
seus olhos eram de fogo
e suas mãos de lírio.
a criança então me disse – “depois
que a serpente me feriu no calcanhar
nunca mais fui ao deserto nem
ao mar.
as águas não me sustentam mais
e somente caminho na praia
pois temo naufragar.

espero o pássaro ferido
e se quiseres esperar comigo
senta-te na praia e não vás ao mar.
o mar é muito vasto e fera enraivecida.
já engoliu noivos e pescadores
e seduziu o pássaro ferido.
não te lembras do mar de suas pompas
e de seus sedutores artifícios?
de seus cantos falazes e dos apelos sedutores
com os quais arrasta para o abismo
do seu próprio nada os navegantes
inexperientes e desprevenidos?
não procures no mar no buliço das vagas
a sombra do teu amor.
eu mandei prender as barcas
e aguardo o pássaro ferido.
canta uma canção ao teu amor.”
como cantarei cantos de amor
nesta solidão?
os cantos nascem apenas da união
do brilho da estrela com o ritmo do vôo.
como hei de cantar canções de amor
se ainda estou peregrinando
por essas praias de vidro?
a criança então cantou assim –
 

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