Rogel Samuel
Brisa marinha
(Quadro de Manet)
Tradução: Augusto de Campos
A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio.
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas plagas!
Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Se rompam ao vento sobre os náufragos, sem mastros, sem mastros,
[ nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do mar!
Mallarmé ecoa a brisa, a brisa marinha. A tradução de Augusto de Campos é uma obra-prima. Podemos sentir a brisa entre os versos, e sua evocação, e sua evocação de fuga, sim, porque não adianta fugir através dos livros que já os tenho lidos, fugir, mas fugir mesmo, oh, só os pássaros são livres para fugir, fugir com minhas asas da imaginação para as maravilhosas ilhas da imensidão do mar, como nas aves, como nos pássaros ébrios de azul e de imensidão, os pássaros e naves que se entregam às espumas e/ou aos céus imensos, suspensos, amplos, livres, etc.
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