A casa do passado
A casa do passado
NEUZA MACHADO
Para
mostrar a decadência da Cidade e provar que os “ratos” do capitalismo
selvagem a invadiram, a corroeram, levando-a ao isolamento, à falência,
tornou-se necessário, ao segundo narrador, apresentar, aos leitores,
primeiramente, a sua indiscutível formosura. Não havia/há limites
geográficos para a situação desta casa (“morava na Rua Barroso, numa
casa cujos fundos davam para o Igarapé do Aterro”), porque a casa, da
Rua Barroso, era ampla e bem arrumada (para conservá-la, sua
proprietária contava com “uma legião de empregadas”), portanto, é
representativa do local da casa primordial e de todas as ruas da cidade
ficcional. Os fundos da casa “dava para o Igarapé do Aterro”, um símbolo
de projeção social, já que foi nomeado. Certamente, o local do Igarapé
do Aterro, à época, não era simplesmente um lugar comum. “Para os
valores inconscientes em imagens da volta à terra natal”, no mencionado
Igarapé se concentram todos os outros que se entrelaçam pela cidade de
Manaus.
A prosa ficcional, repleta de matéria lírica
(atenção: “matéria” lírica, não pertence ao Gênero Lírico), reanimou
intimidades e recobrou a grande segurança da continuidade narrativa.
Desse modo, pelo meu ponto de vista, acrescido das informações
filosóficas bachelardianas, a partir da casa da Rua Barroso se
dilatou/se dilata todo o sentimento do narrador do século XX por sua
cidade imaginária. Para recuperar ficcionalmente a chave e penetrar no
recinto sagrado da Cidade original (infelizmente, já em decadência), o
ficcionista obrigou-se a pedir licença ao arquétipo maior do lugar, a
Grande Mãe. Pois a Mãe, em sentido mítico, reinava na mítico-ficcional
Cidade. (“Era a senhora mais fina, mais elegante e mais bonita da época,
sim, que é assim mesmo, conforme o digo, este narrador”). Para falar
ficcionalmente com o ícone cultuado, o Ribamar de Sousa, tirou o chapéu,
em sinal de respeito ao símbolo maior da anterior duração. Para
retornar à “casa” do passado, a Cidade/Floresta (a Casa/Cidade estava
fechada), o narrador pós-moderno primeiramente buscou a vital proteção
de uma imagem maternal. Por um momento, a belíssima aparição do
universal arquétipo maior quase apagou a vida dos outros personagens.
Foi por um triz.
O fogo da labareda da serpente
Sobre O AMANTE DAS AMAZONAS, de Rogel Samuel
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