FICÇÒES
DO CICLO DA BORRACHA NO AMAZONAS
Estudo
comparativo dos romances A selva (FERREIRA DE CASTRO), Beiradão (ÁLVARO MAIA) e
O amante das amazonas (ROGEL SAMUEL)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.
1.A TEMÁTICA HISTÓRICADO CICLO DABORRACHA.
BORRACHA NAS OBRAS: A selva, Beiradão e O amazonas das amazonas
CONCLUSÃO.
BIBLIOGRAFIA.
I N T R O D U Ç Ã O
Escritores
brasileiros abordaram amplamente os ciclos econômicos através de sua prosa. A
partir do movimento romântico, alguns romances de caráter regionalista ou
sertanista já abordam as temáticas em torno dos ciclos econômicos, entre eles,
podemos citar O garimpeiro, de
Bernardo Guimarães, em que o ciclo da mineração é subsidiário da temática
amorosa.
Não
obstante, a abordagem literária em torno dos ciclos econômicos ganhou maior
expressão com os denominados romances de 30, em que não apenas ciclos econômicos,
como o do cacau e da cana-de-açúcar são abordados num maior número de obras,
como também fenômenos de calamidade geográfica, a exemplo da seca na região do
Nordeste brasileiro.
O
ciclo econômico do cacau propiciou destaque, principalmente, para a literatura de Jorge Amado, sendo Terras do sem fim (1942) um dos seus
romances mais representativos sobre essa temática. Em torno do ciclo da
cana-de-açúcar, destacam-se as obras de José Lins do Rego: Menino do engenho (1932),
Doidinho (1933), Moleque Ricardo (1935), Usina
(1936) e Fogo morto (1943). O
ciclo das secas motivou igualmente a produção de várias obras: O quinze (1930), de Raquel de Queiroz, A bagaceira (1928), de José Américo de
Almeida, e Vidas secas (1938), de
Graciliano Ramos.
Especialmente
nos romances do ciclo das secas, desenvolveu-se um discurso literário peculiar
e, às vezes, linear, em torno de alguns aspectos como a atuação da seca no
ambiente e suas conseqüências para os agrupamentos humanos. Desse modo, em
torno desse tema, tornaram-se comuns imagens da vegetação esturricada e do solo
fendido pelo sol inclemente, do céu límpido e sem nuvens e das aves de
arribação. Outra imagem comum é a peregrinação do retirante que abandona a sua
terra em busca de condições de sobrevivência. Esse momento do êxodo do
flagelado da seca estabelece uma relação com outro ciclo econômico, amplamente
explorado ficcionalmente, o “ciclo da borracha”.
No
Amazonas, desenvolveu-se uma literatura que abordou o ciclo econômico da
borracha. Uma das primeiras obras sobre este tema, O paroara (1899), de Rodolfo Teófilo, faz a mediação entre o ciclo
da seca e o da borracha, uma vez que trata do deslocamento dos nordestinos até
a Amazônia para trabalharem nos seringais.
Considerando-se
como marco inicial O paroara, a ficção
sobre o “ciclo da borracha” completou um século de produção. Podemos afirmar
que a abordagem teve uma continuidade ao longo desse século, pois cada década
apresenta pelo menos uma obra. Nesse contínuo, evidenciamos uma constância de
abordagem em termos de um tratamento maniqueísta, em que o explorador (o
seringalista) aparece como um ser vilanesco sem que sejam enfocadas as
determinações históricas mais profundas do processo econômico. A recorrência à
História aparece apenas como suporte documental para várias obras que procedem
a enumeração e descrição de alguns tópicos (vida no barracão e nos centros de
extração, carência sexual dos seringueiros, truculência do patrão seringalista,
entre outros).
A
fim de compreendermos o conjunto de abordagem em torno do tema, procedemos a
uma divisão de fases nas quais, pudemos constatar características mais
específicas, entre elas o epigonismo, a partir da reprodução dos estilos de
Euclides da Cunha e de Alberto Rangel. Localizamos as obras que apresentam essa
característica na primeira fase, que compreende as primeiras publicações a
partir de O paroara até A selva, de Ferreira de Castro. Após a
publicação de A selva, a tendência
epigônica não mais se verifica e as obras passam a apresentar estilos diversos.
Verificamos na
maioria das obras da primeira e da segunda fase, a manutenção da constância em
torno do tratamento maniqueísta. Na terceira fase, apontamos a obra O amante das amazonas (1992), de Rogel
Samuel, que promove uma diversificação mais profunda em relação à constância de
abordagem referida. Na primeira e segunda fases, fizemos um recorte de outras
duas obras, A selva (1930),
mencionada acima, e Beiradão (1958),
de Álvaro Maia, por considerarmos que essas obras também promovem uma
diversificação na abordagem ficcional. As três obras que englobam o recorte de
diversificação na abordagem do ciclo foram selecionadas também tendo em vista o
fato de que apresentam uma ligação de seus autores com o mundo do seringal.
Paralelamente também consideramos que essa experiência é perpassada por três
visões distintas dos autores; a do escritor imigrante, Ferreira de Castro; a do
escritor político, Álvaro Maia; e do escritor analista literário, Rogel Samuel.
Nosso
estudo encontra-se dividido em quatro momentos ou partes. Procedemos
inicialmente a um apanhado dos fatores históricos caracterizadores do ciclo.
Esse procedimento teve como objetivo apresentar as determinações econômicas do
ciclo como forma de situar as obras nesse contexto. Na segunda parte do estudo,
apresentamos um apanhado do universo de obras do “ciclo da borracha” na
literatura amazonense a fim de identificarmos a constância da abordagem. Na
terceira parte do estudo, apresentamos as obras que constituem o recorte em
torno da problemática da diversificação e desenvolvemos uma análise particular
de cada uma delas. Encerramos o estudo, procedendo a interligação entre as três
obras e os seus respectivos autores, fazendo uma análise comparativa em que
procuramos apontar tanto os pontos de contato quanto os de afastamento entre os
autores e as obras.
O
referencial teórico que dá suporte ao nosso estudo concentra-se principalmente
no argumento que Mário Ypiranga Monteiro desenvolve em Fatos da literatura amazonense, a saber: a literatura amazonense em
torno do “ciclo da borracha” não apresenta diversificação em relação ao
tratamento do tema. Nessa carência, o autor aponta como exceção o romance A selva, de Ferreira de Castro. A selva é igualmente apontada por Márcio
Souza em A expressão amazonense como
o único romance que conseguiu desfazer o círculo de ostentação das letras
amazonenses, baseado numa retórica vazia e acrítica. Segundo o autor, a obra
desvela realisticamente o processo do “ciclo da borracha”.
Empreendendo
a análise de A selva apontamos
detalhadamente a coerência da organização estrutural do romance em relação à
abordagem do tema. Acrescentamos, todavia, as nossas considerações acerca do
determinismo acentuado na obra, o qual prejudicou a sua construção crítica
sobre o ciclo.
Na
abordagem de Beiradão, consideramos e
dialogamos com o estudo empreendido por Neide Gondim em Simá, Beiradão, Galvez, imperador do Acre: ficção e história.
Especialmente a assertiva de que Beiradão
rompeu com o protótipo do coronel de barranco foi de valia para o nosso
estudo que se pauta pela ocorrência de diversificação nas obras do ciclo.
Consideramos e nos apoiamos também no estudo de Heloína Monteiro dos Santos: Uma liderança política cabocla – Álvaro
Maia - apontando a ideologia subjacente no posicionamento político do autor. Por fim, a análise que procedemos em relação à
obra O amante das amazonas teve como
suporte teórico o texto Crítica da
escrita, do próprio autor, mediante
o qual podemos compreender as concepções estéticas explicitadas na criação de
sua obra ficcional.
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