sábado, 15 de fevereiro de 2014

ESTUDOS BARROCOS EM TOM MENOR DE L. RUAS



 ESTUDOS BARROCOS EM TOM MENOR

L. RUAS

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I





Na inversão do caos plantei-me como rocha.
E das linhas refletidas nos céus fragmentados
roubei um pouco o som, a cor e a dissonância
para ter, novamente, o retângulo nascido
no ventre das correntes marítimas de mares
sugados, carcomidos por barcos e naufrágios.

As rosas palpitavam nas pontas dos triângulos.
E vinham navegando colunas pelos ares
e cubos assimétricos e cones e cornijas.
E as ruas despertavam das portas e das pedras
cansadas de sentirem pesando sobre si
o peso imponderável dos sóis entardescentes.

Cresciam nas janelas o cacto e as tulipas.
E os cães seguiam lerdos ao lado dos arcanjos.
No cais, entre as ruínas, soavam badaladas
que os ratos devoravam, à noite, amedrontados.
Então, quis inventar o mito de mim mesmo
com os restos dos navios batidos pelos mares.

O poema se constrói como a flor e o cogumelo.
De velhos janelões, de arcadas e postigos,
de ruas, cães vadios, palhaços e farândolas
detive a essência.
E faço ressurgir de eterno caos
a rocha permanente coberta de corais
o templo que é morada do coro angelical.



 

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