Lembro-me de que, naquele Igarapé do
Inferno, mas logo mais abaixo na última linha que riscava o horizonte daquela
tarde - era uma diagonal dourada com a tempestade se aproximando na outra ponta
do horizonte - como num recorte de uma cena de um escrupuloso sonho histórico,
soberanamente saltou sobre meus olhos o vulto belo e art-nouveau do Palácio
Maxini (que era como se chamava aquela construção), sede do Seringal e
residência de Pierre Bataillon, pois nós retornávamos em busca daquele passado
interdito, pois nós chegávamos no fim daquela era quando o Palácio transparecia
com deslumbramento nos seus múltiplos reflexos das quinquilharias de cristal,
janelas e bandeiras das portas transformadas em lúcidas placas de ouro
reluzente e vívido e muito louco, de um ouro muito louco e muito vivo, de um
brilho vivíssimo, dourado e louco, fantasmático e delirante,
desterritorializado e dIspare, produzido pela acumulação primitiva de quase um
século de exploração e investimento e agenciamento de sobrepostos níveis
heterogêneos de história, num engendramento de todo varrido do planeta moderno,
confinado ali, circunscrito ali, centrado ali na dependência permanente de si e
de seu retardado isolamento e de seu anacrônico testemunho.
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