quinta-feira, 3 de abril de 2014

Rogel Samuel: CRÍTICA DA ESCRITA





Sua “viagem" deixa o trilho virgem de um sem número de estragos.

As vozes enlouquecem (o que é que vão pensar? diz o discurso do Outro), desciam em desconversas, explicações, hipóteses e lendas: Mitos? O pai é um Mito. Fundamental. As vozes abrem, repetidamente, o avesso da antífrase, secam infelizes, caem melancolicamente, em depressão, querendo - ainda - conservar o rosto da figura (ousaram o Ousado? o Supremo Sonho?).

Qualquer índice que por ventura apareça é analisado, interpretado, o enfoque muda de mão, se prolonga, intrinca o seu percurso, no aveludado das conversas sigilosas, silenciosas, da imaginação secreta enredada no solo do tempo, no desconhecer da conjunção das estações da vida, de onde vem o vento do esquecimento, que atrofia o invólucro do presente nunca ofertado, e vem a chuva e o arrasta para o chão sem fundo dos baixios e vazios.

Que aconteceu? Desconversam vozes. E silenciam, desaparecem. Confusas e tristes. A tristeza das vozes do discurso, exiladas da albergaria da tradição: O ar cheio de signos, de cantos, de cantores, de lamentos, de fagulhas e respingos, de ninhos fugidos, não se encontrando mais, no ar do abandono da inexplicação, o condicionado nas calhas da velhice, na história, na humana, na amortecida Ida, pelo fluxo do não-permanente, do vir-a-ser. Vozes perplexas do não-lugar. O código das vozes da perplexidade:

 

             «Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram

             de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o

             entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem

             sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se

             desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes

             das noticias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras,

             até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a

             tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava

             no rio, solto solitariamente.» (Idem).

 


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