Rogel Samuel: CRÍTICA DA ESCRITA
O significante é o pai-canoa,
que se desloca, com seu desígnio funesto, violando, entre outras, uma lei: A da
intersubjetividade, em que se motivam a união dos membros sociais.
A complementaridade de
substituir o pai, por parte do filho, tem o patronato de teses psicológicas,
psicanalíticas, políticas, antropológicas, sociológicas, históricas.
O rio dá, à paternidade, um
novo sentido para sempre: O pai mergulha (retorna) no inconsciente, que é o
discurso do Outro (que dirão as vozes?).
Os sujeitos (pai-filho) devem
revezar-se, um sendo substituído pelo outro.
Qual o lugar desta
substituição? Que vem representar o puro significante pai-canoa? (Sobre a
primazia do significante, ver Lacan: “Seminário da carta roubada”, na
bibliografia).
Ir para o rio social: Ir é dolo.
A matéria social não quer que
ninguém vá, pune a ousadia de sair para
nova dimensão.
Os problemas se complicam, na
procura dos fins de restituição do pai à condição paterna. O pai deve ser
reconduzido ao seu lugar na canoa com a mãe (canoa fálica).
E o filho, este se sente
culpado por desejar a morte do pai, seu afastamento da mãe, o deslocamento com
sua fálica canoa.
O pai se afasta com sua fala,
isto é, com sua canoa.
A canoa é a transposição da fala paterna, do falo.
Quando o pai manda fazer a
canoa, está erigindo um monumento (que é transposição de sua fala, de seu
silêncio, de sua falta), emblema daquilo que retira da mãe, para sempre, para o
sêmen das águas femininas.
A fala nadará, daquele momento
em diante, no grau de feminidade pura.
Neutralizada pela
horizontalidade em que se deita, a fala desaparece na semiose pura da liquidez
da mulher aquosa da mãe d'água. Ela retorna àquele estado pré-uterino, o do
espelho do rio humoral, placentário. A canoa, objeto perdido, ao qual se pede,
e perde, aquele dolo (fálico).
Não se pode restringir a
fábula ao uso da tridimensionalidade interdita do rio, apenas.
O uso é o uso da fala
familiar, que se aparta, que se afasta, que se cassa.
Ausentando-se, com sua canoa,
o pai resolve, retira do núcleo familiar o dom da fala, em que se sustenta a
ordem simbólica da civilização e da escrita.
Mas sua retirada se dá tardia,
a ordem simbólica já está instaurada no narrador filial. E assim o que se
lastima é a perda de origem da fala, tardia e castrada. A fala sem origem se
perde, se prostitui, se desconsolida.
2 comentários:
Estou acompanhando a leitura deste conto do Rosa. O Outro interesse sempre...
Abraço,
Jefferson.
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