Outono em Washington
Uma chuva de folhas douradas
cai e espanta os esquilos de Washington
que não podem catar suas nozes
sem que não sejam incomodados.
Insólito aguaceiro de dólares
atrapalha as pombas que passeiam
entre os sapatos dos intocáveis
e talvez gripados milionários.
O estrondeio dos aviões a jato
estilhaça nos ares de estanho
os direitos civis dos pardais
em voo do Obelisco ao Potomac.
E o turbilhão de vento e folhagem
crispa a orquídea na loja de flores
entre o Bank of América e a noite
nos abrigos contra a bomba atômica.
Uma tempestade de corn-flakes
cai sobre as moças em flor que vão
aos psiquiatras perguntar como
lidar com as máquinas de amor.
Chuva de apartes no Capitólio.
Republicanos e democratas
dão ao foguete chamado Apolo
um prazo para chegar à Lua.
Um anjo de goma e pepsi-cola
faz o pedestre apressar o passo
nas avenidas incandescentes
de olhos de vidro inquebrável e aço.
Na poderosa e marmórea Washington
cheia de templos greco-latinos
só a borracha da noite de outono
apaga as garatujas dos homens.
Lêdo Ivo
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