Fui eu o primeiro a avistar uma
fêmea Numa. Ao vivo. Mas fui o único.
Aquelas águas escorriam desde o princípio
do mundo, das partes íntimas do mundo. Gigantescas árvores deixam passar águas
que vêm dos desconhecidos lugares numas. Os Numas lhes pertencem, da
sobrevivência, esquecidas, feridas, passam. Frias. Se perdem. Perigo,
atroz.
A princípio não se pode delimitar
com precisão. Onde as terras dos Numas? Onde as do
Seringal?
Depois se
vêem.
Sentem-se.
No
cheiro.
Nas raras marcas
macias.
Uma flecha, especada no talo da
árvore, atravessada na picada, vermelha. Um
sinal.
Um galho, quebrado, que diz: “Não
passarás”.
E, além da Curva do Tucumã, a
passagem do eixo do rio em morte, que se
separa.
Pode-se banhar e pescar, mas deste
lado. Nunca do outro lado. O lado secreto.
Mas aos poucos os Numas se
infiltravam.
Avançavam.
Atravessavam.
Passavam além de si mesmos. Não
respeitavam seus próprios limites.
Atravessaram o rio, a ordem, o
marco que existia, invisível, no rio e na floresta.
A conduta, o êxtase, a curva onde
moravam, o mediante, o perfeito domínio, os Numas se mexiam, silenciosos,
invisíveis, nos múltiplos lados do rio, um rio em “S”, quase em sacado, um
domínio incompreensível, ignorado, em torno do qual se distribuíam os
seringueiros, aquela parte alta, terra-firme, cuidadoso controle, cordialidade.
O Seringal, todas as noites, era
invadido por fantasmas.
O mundo se economizava.
Harmonia de gestos, noturnos, em
nenhum momento involuntários, violentos, irrompendo no pacto tênue, presente, do
espírito do silencioso do palco armado.
Não basta
saber.
Não basta
esquecer.
Não basta
falar.
Assegurar a paz, conforme um crime,
como se a verdade dependesse do oculto.
Não. Nada assustá-los,
provocá-los.
Não ameaçá-los, procedimentos que
advertiam a hierarquia estabelecida. Eles, fantasmáticos e míticos. Eles, em
liberdade de vento.
Porque eles eram
Nada.
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