Rogel Samuel: CRÍTICA DA ESCRITA
Na brecha do rio se inscreve a
escrita da Fenda, lá há a escrita clandestina, a esquecida de seu miolo, de sua
semente.
Esta complexidade das
vertentes do texto não se simplifica, mesmo amputando suas partes, os membros
da estrutura.
Nem promana dos resultados a
complexidade verbal da interpretação, que só faz levantar o pano, e não se
trata de conseguir, na leitura, resultados mais complexos, mas confusos.
Durante todo o texto (“nosso
pai“), o pai se repete, ele é a poesia do seu imagismo familiar e ecolalia, na
tendência do filho de repetir automaticamente as palavras ouvidas.
Esse pai que repete é a
pulsão, o ritmo. Seu brilhantismo temático. Repete-se para que não desapareça
de todo.
Acresce que o texto
interpretativo tem de vir em estado de liberdade, de não compromisso, o que não
deixa de ser: Livre com respeito às leituras consideradas corretas.
Só há um endereço: O leitor,
na estima e no reconhecimento.
Vamos escrevendo o que nos
acorre.
Assim o rio.
Ele tem a dimensão da
linguagem que vai aparecendo, sua leitura se vai fazendo à medida que os
acontecimentos simbólicos vão ocorrendo, a saber, a linha discreta e segmentada
do fluxo inconsciente, que é o discurso das vozes fluviais, das vozes que vêm
do rio.
Ali o pai habilita o filho,
empresta a sua voz, seu discurso, na cadeia significante do jogo do ir-e-vir da
sua casa, da sua causa, da sua canoa.
No seu lugar se levantam
incidências imaginárias, aquilo que a leitura vai tecendo, registrando, produzindo:
«A gente teve de se acostumar com aquilo. As
penas, que, com aquilo, a gente
mesmo
nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que
queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava
para
trás meus pensamentos, O severo que era, de não se entender, de maneira
nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros,
calor,
sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o
chapéu
velho
na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do
se-ir
do viver.» (“A terceira margem do rio”, ver bibliografia).
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