quarta-feira, 9 de abril de 2014

Inéditos revelam Fernando Pessoa como adolescente indignado

Inéditos revelam Fernando Pessoa como adolescente indignado

Textos incluídos em livro que será lançado no dia 17 dão vazão à verve antimonárquica do autor
  • Os cinco poemas — um deles, inacabado — foram escritos quando ele tinha 17 anos e acabara de voltar a Lisboa para cursar a universidade


‘Abaixo a guerra, a tirania;/ Abaixo os reis, morra a Igreja./ Não haja coração que seja/ Inimigo da luz do dia!’, bradava Fernando Pessoa quando jovem Mônica Torres Maia / Reprodução



RIO - Cinco poemas inéditos de Fernando Pessoa estarão em “Mensagem e outros poemas sobre Portugal”, livro que a editora Assírio & Alvim lança no dia 17, revela em reportagem o jornal "Público". Segundo os estudiosos Richard Zenith e Fernando Cabral Martins, que encontraram as obras, elas datam do início de 1906, quando o poeta tinha 17 anos de idade e acabara de voltar a Lisboa, vindo da África do Sul, para estudar Letras na Universidade da capital portuguesa.
Apesar de não serem poemas fundamentais, em termos de qualidade, para a obra de Pessoa (e nem mesmo os primeiros, já que ele ditou uma quadra às mãe aos sete anos e escreveu vários poemas entre 1901 e 1902, quando passou temporada em Lisboa), eles se destacam por seus duros ataques à monarquia portuguesa. Em tom indignado e panfletário, os quatro poemas completos (e um inacabado) revelam aquele adolescente criado na cultura inglesa, aspirante a poeta inglês, mantinha ligações sentimentais suficientemente fortes ao seu país natal para não ter perdoado à monarquia a aceitação humilhante do Ultimato britânico de 1890.
Os versos mostram que, aos 17 anos, recém-integrado à comunidade universitária de Lisboa, Fernando Pessoa era um republicano, inimigo jurado da coroa e da Igreja. “Abaixo a guerra, a tirania;/ Abaixo os reis, morra a Igreja./ Não haja coração que seja/ Inimigo da luz do dia!”, pregava ele, no poema inacabado. Em outro dos inéditos do livro, ele lamentava: “(...) Com o governo que temos e o nosso rei/ Somos um carro já sem rodas.”
Segundo Ricardo Zenith, a dedução de que os poemas datam do início de 1906 se deu pela análise do tipo de papel em que foram escritos, pelo fato de estarem misturados a textos seguramente desse período, pela caligrafia de Pessoa e por referências a “projetos contra a monarquia” presentes no diário que ele escreveu naquele ano. Esses poemas derrubam a tese de que a obra do poeta entre 1903 e 1908 se resumira aos poemas em inglês dos heterônimos Charles Robert Anon e Alexander Search.

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