quinta-feira, 8 de agosto de 2013

As amazonas amerígenas 5


Pablo Cid
(Moacyr Rosas)


As amazonas amerígenas 5


NOTICIAS DAS AMAZONAS AMERIGENAS NA EUROPA. A quem cabe o louro de ter, em primeira mão, levado noticias destas mulheres à Europa?
Segundo o repetido conceito da História, cabe o galardão triunfal a Francisco de Orellana. É uma glória espinhosa essa, pois, tem motivado verdadeiros panegíricos em sua honra, de par com as mais violentas verrinas incendiadas de ódio.
Cabe, em são espírito de justiça, a Colombo êsse privilégio. Porém mais uma vez o almirante Dom Cristóvão Colombo foi logrado. Ainda não passou um indivíduo na história, cujos feitos fôssem tão contestados como os dêsse homem que nem pátria tem, a ponto de se lhe darem duas, para negar a verdadeira. Até ao nôvo continente, sua descoberta, dão o apelido de um mareante embusteiro Américo Vespúcio. Cerra os olhos pensando que as terras encontradas eram complementos das índias. E até às pequenas coisas, a tradição cavilosa sonega-lhe o direito.

Na famosa epístola, cujo original é desconhecido, endereçada ao tesoureiro da monarquia espanhola, de então, Don Raphael Sanches, deu notícia das amazonas, e êsse, por sua vez afirmou: “Estas mulheres não se dedicam a trabalho algum próprio de seu sexo, pois usam arcos e frechas, segundo se disse das anteriores, e se colocam por defesa lâminas de cobre, de que têm em grande abundância”. Aqui, sem desmentir a ardente e imaginosa raça latina, o real tesoureiro deu largas à sua imaginação no que diz respeito aos apetrechos cuprinos.
No curioso Diário da Primeira Viagem de Colombo, Pedro Martin, pormenorizadamente, conta que os amerígenas disseram ao almirante que mulheres sem homens habitavam a ilha de Matityma (Martinica), as quais se defendiam com armas, sem receber comando do sexo forte, e sim, de si mesmas; e foi então que o almirante apelidou-as - amazonas. Eis como se refere a êste passo, na obra citada, Blasco Ibañez: “Além disso interessava a todos conhecerem a ilha de Matinino, tôda ela povoada de mulheres que anualmente recebiam a visita dos da vizinha ilha de Caribe. Se depois da entrevista anual davam a luz meninos, mandavam-nos para a ilha dos homens, se meninas, deixavam-nas ficar consigo para serem amazonas.
Afirma Hakluyts, citado pelo glorioso Gonçalves Dias, que disseram ao navegante florentino que a ilhota de Madanino (Monserrate), estava povoada exclusivamente por mulheres guerreiras, que passavam a maior parte do ano afastadas do comércio dos homens.
A Espanha, porém, só viera ficar inebriada com as coisas fantásticas do nôvo continente, após a chegada do homem que a história condecorou com péssimos adjetivos o capitão Francisco de Orellana. E quem descreveu esta cruciante e assombradora história foi o cronista Fernandez de Oviedo, que teve a oportunidade de ainda se encontrar em S. Domingos e ouvir a narração do próprio herói que, na sua opinião, foi uma das maiores coisas acontecidas a homens e que valia a pena fazê-la desde logo conhecida na Europa. Na relação apresentada ao cardeal Bembo — Pietro Bembo, um dos entusiásticos evangelizadores do neo-platonismo e favorito da estranha Lucrécia Borja, diz, entre muitas outras coisas imaginárias, que aquelas mulheres combatiam em guerra; que viviam a sós sob o comando de uma mulher; que possuiam ambos os peitos e não matavam os filhos, mas entregavam-nos aos pais. Foi aquêle seu depoimento apresentado no dia 20 de janeiro de 1543 e publicado no ano de 1555.


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