segunda-feira, 5 de agosto de 2013

As amazonas amerígenas




Pablo Cid
(Moacyr Rosas)


As amazonas amerígenas
(Rio de Janeiro, Bruno Buccini, 1971)




A LENDA DAS AMAZONAS AMERIGENAS que está no fôro da inteligência humana paramentada de mirífica fantasia, tem fascinantemente empolgado sempre espíritos de formoso saber científico e literário, como o de Alexandre Von Humboldt e de Carlos Maria de La Condamine. A sua existência é um caso labirintado que não nos deixa tirar uma conclusão lógica, pois tôdas as tentativas nesse sentido oferecem ao nosso juízo a impressão de um pêndulo, que oscilasse entre duas poderosas opiniões, sendo fácil portanto, aceitar qualquer delas.
Esta peremptória afirmativa não nos inibe de tentar uma honesta investigação.
Bilac, o primoroso poeta patrício, numa página de deliciosa prosa sobejamente conhecida, comenta:
“Esta lenda é uma ressurreição de uma das velhas tradições helênicas. As Amazonas, segundo Heródoto e Plínio, eram mulheres guerreiras, fabulosas cavaleiras, que viviam em nação misteriosa, na Capadócia, às margens do rio Termodoonte. Hércules venceu-as e destroçou-as, e aprisionou a sua rainha, Antíopa ou Ripólita, dando-a em casamento a Teseu. Foi Francisco D’Orellana, aventureiro espanhol, companheiro de Pizarro, primeiro explorador do Amazonas, em 1541, quem encontrou ou sonhou encontrar nas margens do grande rio as Amazonas americanas. Pizarro incumbira Oreilana de descer até o mar a prodigiosa corrente, descoberta por Pinzon e então denominada Mar-dulce. O fim da expedição era o achamento da magnífica região do Eldorado. Essa viagem foi uma estupenda sortida de heroismo alto. Durante muitos meses de combates, de misérias, de fadigas, de fomes, procurando, cada dia ao alvorecer, avistar as tôrres e as armaduras de ouro do país fantástico, Orellana e a sua bandeira percorreram 1.700 léguas, até a foz do imenso curso. Ao chegar à Europa, Orellana narrou o seu encontro com as belicosas índias, cuja existência, ardentemente discutida, foi afirmada e negada, durante muito tempo, por viajantes e geógrafos. As Amazonas brasileiras eram, segundo uns, brancas louras; segundo outros, morenas e de cabelos negros; e eram fortes e belas, ágeis e valentes, zelosas da sua independência; e tinham costumes extraordinários. Ouvi, textualmente, o que delas disse o padre Simão de Vasconcelos, autor da “Crônica da Companhia de Jesus no Estado do Brasil”: há outra nação de mulheres monstruosas no modo de viver (são as que hoje chamamos Amazonas, semelhantes às da antigüidade, e de que tomou o nome o rio), porque são mulheres guerreiras, que vivem por si sós; habitam grandes povoações de uma província inteira, cultivando as terras, sustentando—se de seus próprios trabalhos ; vivem entre grandes montanhas; são mulheres de valor conhecido, que sempre se hão conservado sem consórcio ordinário de varões...”

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