terça-feira, 6 de agosto de 2013

As amazonas amerígenas


Pablo Cid
(Moacyr Rosas)


As amazonas amerígenas
(Rio de Janeiro, Bruno Buccini, 1971)


Tal é a lenda das Amazonas brasileiras. “Não é possível que Orellana tenha inventado de todo esta fábula. É possível que o aventureiro espanhol tenha visto, entre os índios que o guerreavam, algumas índias, e tenha acreditado que a multidão dos combatentes fôsse exclusivamente composta de mulheres; ou, talvez, como acreditam alguns escritores, êle tenha combatido com tribos de Omáguas ou Cumurus, todos homens, mas que pelo seu aspecto ou vestuário lhe tenham parecido mulheres; ou, ainda, talvez, como acreditava o padre Ivo d’Evreux, existiram realmente no Amazonas tribos só de mulheres, da raça dos Tupinambás, que, fatigadas do cativeiro em que os seus maridos as retinham, dêles se separaram e viveram à parte das outras tribos. .
Outro, Karl Von Den Steinen, que se deixara maravilhar com a história destas guerreiras mulheres, tanto que não temeu abalar a reputação de seu nome, disse: —“Ainda quando nunca tivéssemos ouvido falar das Amazonas da antiguidade, eu acreditaria, sem hesitar, nas da América, cuja existência é a mais verossímil”.
Enquanto Barbosa Rodrigues, Alfredo Ladislau, Raimundo Morais e outros negam a veracidade dêsse mito famoso, atribuindo-o a caprichos de fantasia de cronistas primévos.
O primeiro, autor do famoso O Muyrakitã, afirma, naquelas páginas de real erudição histórica, que os índios, que auxiliaram como capitães de grupo (si é que existem entre êles) a horda de aborígenas que ofereceu combate aos espanhóis do bergantim, os quais Orellana e o bom frade Carvajal tomaram por mulheres, sendo os índios aupés, cujo porte, penteado e ar efeminado e o hábito de levarem consigo as suas mulheres ao combate, bem podem ser tomados por evas belicosas. E Raimundo Morais, nem isso admite. Partindo das lendas de terras estranhas conhecidas na Europa, formula assim a sua conclusão:

“Não admira pois que Orellana, quarenta anos mais tarde da descoberta assinalada pelos lusos, para amortecer e apagar talvez a deslealdade cometida ao abandonar Pizarro à fome e ao frio nos alcantis nevados do Peru, inventasse, como incidente teatral da sua descida ao sabor de uma caudalosa corrente, as tremendas Amazonas, que, de arco e flecha, o assaltaram e o escorraçaram rio abaixo. Se na Amazônia já refloriam as histórias do variado folk-lore atual, referto de iáras e botos, de veados e jabotis, de irapurus e curupiras, Orellana juntou-lhe mais esta, reminiscência lendária da Hellade”.
OS SONHOS DOS NAVEGADORES. No século XV, todos os intrépidos nautas tinham na vulcânica imaginação um estranho país, da qual faziam brotar sonhos fantásticos, que animados pela sua tão apregoada paixão das aventuras os impeliam a arrojar-se aos mares bravios, em busca, às vêzes, de ignoradas terras. Os caminhos marítimos seduziram as imaginações dos aventureiros cansados das trilhas áridas dos cavaleiros andantes, que tão sàbiamente o primoroso Cervantes soube aniquilar numa incomparável chacota. Pois as graças escudeirais enfeixadas em tôrno do cavaleiro da triste figura que é o Dom Quizote de la Mancha, fizeram os intrépidos sonhadores trocar o dorso das bêstas pela condução em barcos à vela. Era corrente, naqueles tempos, a imaginária narração do cavaleiro inglês João de Mendeville no Livro das Maravilhas, cuja autoria, na opinião hodierna, pertence ao astrólogo de Lião João de Borgonha. Outra obra que convulsionou a mente da inquieta família marítima, foi o Livro das Maravilhas do Mundo, ditado pelo famoso Marco Polo a Rusticiano de Pisa, que o passou ao idioma de Voltaire, acompanhada a versão, para não se pôr em dúvida o seu cunho verídico, da seguinte nota: “Marco Polo, prudente e nobre cidadão de Veneza, viu tudo isto com os seus próprios olhos, e o que não viu, ouviu-o da bôca de homens de muita verdade”. Marco Polo foi, no conceito do prodigioso romancista Júlio Verne, “o mais ilustre viajante de tôda essa época”.
Outros mais livros, não de tanta monta, que também corriam impressos, e ficaram conhecidos na história com o nome de incunábulos, contribuíram para incitar nos mareantes sua parcela de encorajamento para buscarem seus objetivos.



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