sábado, 10 de agosto de 2013

As amazonas amerígenas 7


Pablo Cid
(Moacyr Rosas)


As amazonas amerígenas 7




REGIÃO DO FAMOSO REINO — A grande senhora na língua dos naturais era Coniupuiara e a capital de seu império chamava-se Caranai, onde eram as “casas assoalhadas no solo até meia altura e que os tetos são forrados de pinturas de diversas côres, que nestas casas têm elas ídolos de ouro e prata para o serviço do sol” (Carvajal).
Por falar em reinado destas mulheres, não será desoportuno lembrar que os indianos denominavam o país, no qual elas habitavam, Striradjya.
Porventura em que paragens, na Hiléia Amazônica, se ergueu tão civilizado e tão rico império? Se penetrarmos’ em meticulosa pesquisa, deparar-se-nos-á alabirintada perplexidade. O livro do padre Cristobal de Acuña por exemplo, ao qual La Condamine dá excessivo crédito, assegura de modo convicto: “Os fundamentos que há para assegurar Província de Amazonas neste rio (o Amazonas) são tantos e tão fortes, que seria faltar à fé humana o não lhes dar crédito”.

Orellana informou sua localidade, entre a foz do Rio Negro e a do Rio Xingú. O padre Carvajal que o acompanhou, dá o senhorio das amazonas estendendo-se da foz do Yamundá a “umas sete jornadas da costa”, e escreveu apoiado na autoridade do natural Carauari. Nas mesmas imediaçôes, Acufia também o situa “entre grandes montes e altíssimos cerros, dos quais o que mais se alteia entre os outros, e que, como o mais soberbo, é combatido dos ventos com mais rigor, pelo que sempre se mostra descalvado e limpo de vegetação, se chama Ycamiaba”.
O autor do famoso Muyrakitã conta-nos: “Para mim, a tribo dos Uaupés é a célebre conhecida na história pelo das Amazonas, encontradas por Francisco Orellana. A tradição que existe entre uaupés, hoje habitantes do Alto Rio Negro, de que outrora habitaram as amazonas do Amazonas, que deixaram obrigadas por uma grande inundação, concorda com o lugar que descobri na costa do Peru entre os rios Yamundá e Trombetas, que denominei Tanakuera das Amazonas; por aí, segundo a história, Orellana viu as Amazonas”. E adiante conclui: “Se a história e a tradição não falham, aí foi a aldeia das Amazonas, porque lá encontrei os muyrakytãs e fragmentos da rocha de que são feitos, assim como também aí foi achado o ídolo amazônico
Raleigh informou que o reino das mulheres sem macho demorava próximo ao rio Tapajós, onde depois de quase dois centenários La Condamine encontrou os maravilhosos amuletos. Êsse mesmo diz também que os silvícolas de Caiena lhe informaram que elas moravam ao redor das formidáveis quedas do Oiapock.

O missionário padre Gili pretendeu que tal império ficava no rio Cuchivaro, razão por que, os descendentes delas — dos aikeambenamos (mulheres vivendo só), deram à sua nova habitação, um afluente do Rio Orenoco, o nome de Cuchivaro.
O renomado viajante Carlos Maria de La Condamine soube, por informação de um velho soldado da guarnição de Caiena, que havia, numa viagem de pesquisa, penetrado até os Amicouanes, nação de largas orelhas que vive acima das nascentes dos Oiapock, que as Cunhantainsecuima, eram mulheres “que não tinham marido, cujas terras demoravam a sete ou oito dias de jornada para o lado do Ocidente”.
Em face de tantas e variadas informações não podemos, de maneira alguma, firmar um juízo concludente e positivo. Nesta altura avanço: o contemporâneo que localizar o célebre reino, ainda que fundado nos recursos de sensata lógica, pode, após pequeno raciocínio, ser aniquilado. O material literário, embora um pouco raro, sôbre as amazonas ameríndias, é vastissimo. Dentro dêste, flagrantemente, se entrechocam abalizadas opiniões, das quais, não poucas pertencem a homens cujo áureo nimbo eviterno lhes circunda o nome.
Há escritores que, soltando rédea à imaginação, crêem que Ofir e Parvain estão localizados aqui no Brasil. “Kavila e Ophir são dois irmãos, comenta Ulysses de Pennafort, isto é, dois países vizinhos, situados um ao norte, e outro ao sul. Na região do Norte, que é Ophir, Souffa ou Separará, é onde habitavam as Amazonas. Estas Amiçuanas constituiam aquela célebre tribo composta de mulheres de orelhas compridas que demoravam no país dos Ycamiabas, nos montes Cunurêz além das cabeceiras do Oiapock, e junto às nascentes do Essequibo e Caciquiari, que comunica o rio Orenoco com o Amazonas”. E uma das razões do autor está apoiada no fato de Orellana haver chamado as aguerridas mulheres de amazonas, querendo só por isso explicar que elas são descendentes das~ antigas, e herdeiras legais da ousadia e riqueza.

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