segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A ARISTOCRACIA DAS AMAZONAS



Pablo Cid (Moacyr Rosas, 1918-1998) As amazonas amerígenas

A ARISTOCRACIA DAS AMAZONAS — “Trazem os cabelos soltos até o chão (*) e postas na cabeça coroas de ouro, da largura de dois dedos” — como pachorrentamente escreve o bom frade espanhol. Tinham bastante fôrça, tanto que causou admiração uma delas meter “um palmo de flecha em um dos bergantins”.
Sôbre o assunto Herrera escreveu que atirar flecha não é novidade nas índias, como se viu nas ilhas Barlavento, Cartagena, etc. (Hist. de La Decouverte et de La Conquête du Perú — Paris, 1742/4 Cap. II).
Quem primeiro especificou a natureza de sua raça foi Alonso Rojas, que disse serem elas raça superior e também foi o primeiro a afirmar que elas só tinham um seio. Em tôrno de tal assunto industriou-se muita literatura entulhada de fantasias, algumas das quais, descrendo do mito, derramam acusações ao nome de Orellana.

(*) ... cabelos soltos até o chão.., com esta informação poder-se-ia apurar um dos pontos sólidos para refutar os adversários de Orellana, firmando-se na autoridade do insígne Gregório Maraflon (A Evolução da Sexualidade e os Estados Interseccuais, p. 32): “A longa cabeleira foi sempre de fato um dos caracteres específicos da atração sexual da mulher”. E acrescenta em uma nota à mesma página: “Segundo Bucura os cabelos da mulher podem atingir a altura do corpo, enquanto que os do homem não ultrapassam nunca os ombros”. Segundo Rank, “o comprimento médio do cabelo feminino é de 75 cm, porém, freqüentemente atinge a 150 cm, e mesmo mais (Stratz)”. Sólida teoria; mas com calcanhares de Achiles. É sabido que existia na bacia amazônica uma tribo mais branca que as demais, assim conta Heriarte, e que os aventureiros lusitanos chamaram Encabelados, “por trazerem os cabelos mui compridos em demasia, que às vêzes lhes arrastam pelo chão, assim os homens como as mulheres...

La Condamine não identificou o seu criador, porém acreditava que fôsse criação de europeu o dar-se como hábito daquelas amazonas amputarem o seio direito às filhas. A respeito, um escritor de nomeada, como tivemos oportunidade de dizer em capitulo anterior, assevera que para usar aquêles instrumentos guerreiros não há absoluta necessidade do sacrifício daquele órgão.
Comentando a obra de La Condamine, o celebrado bardo de Caxias adverte: “A cauterização ou amputação do seio era operação cujos perigos mal podiam êles suspeitar, e o próprio Cunha a refere de um modo tão singelo e simples, como se tratasse de aparar unhas ou cortar o cabelo”.



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