sábado, 10 de agosto de 2013

HISTÓRIA DO BRASIL DE AFRANIO PEIXOTO 7


HISTÓRIA DO BRASIL DE AFRANIO PEIXOTO 7


II
REVELAÇÃO


A segunda armada: o Brasil. — A data. — O descobrimento. — O nome. — A terra. — A gente. — Ainda Cabral. — Precursores de Cabral.
A SEGUNDA ARMADA: O BRASIL
Partira Vasco da Gama a 8 de Julho de 1497, com três naus, São Gabriel, São Rafael, Bérrio e uma barcaça de mantimentos: depois de mil trabalhos e doenças, tornou, destroçado, em começo de Setembro de 1499, apenas com dois navios e um terço da gente. “Avedo dous annos & dous meses q dali partira (de Lisboa), com cento & corenta & oyto homes, de que não tornarão mais que cincoenta & cinco & ainda forão muytos para os immensos trabalhos que passarão, de bravas tormetas & terríveis doenças... (Castanheda, História da Índia, 1. I, Cap. XXIX). “Os Lusíadas” foram 148, dos quais morreram de escorbuto e outras misérias 93... Mas o “feito nunca feito” (Lus., VIII, 71) estava realizado, e conhecido, e percorrido, o caminho das Índias. Era, agora, aproveitá-lo.

Foi o que imediatamente empreendeu Dom Manuel. Apresta-se logo a segunda armada, para a qual Vasco da Gama indica um capitão, outro fidalgo como ele(1). É Pedro Álvares Cabral, de Belmonte (pedraluarjz de guouuea, diz a “Carta da Capitanya Moor e poderes”(2), que recebe instruções de el-Rei e conselhos do Gama. São dez naus e três navios pequenos, “mil e quinhentos homens”, diz Castanheda (op. cit., 1. I, cap. XXX, p. 72) comandados por Pedralvares, a Capitânia; por Sancho de Tovar, soto-capitão ou imediato; por Pedro de Ataíde; por Nuno Leitão da Cunha; por Nicolau Coelho, que fora companheiro de Vasco da Gama; por Simão de Miranda; por Vasco de Ataíde; por Bartolomeu Dias, que dobrara o Cabo de Boa-Esperança; por seu irmão Pero Dias, também da empresa d’“Os Lusíadas”; por Luiz Pires; por Aires Gomes da Silva; por Simão de Pina e por Gaspar de Lemos.
Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho serão a experiência; mas há um passageiro de categoria, Duarte Pacheco Pereira, que virá Camões a chamar “o Aquiles Lusitano”, autor do Esmeraldus de Situ Orbis, que negociara o Tratado de Tordesilhas, privava com el-Rei, conselheiro, cosmógrafo, marinheiro e, ao demais, herói: viaja na nau. S. Pedro, do comando de Pedro de Ataíde(3).
O comércio colabora: duas naus são de fidalgos, o Conde de Porto Alegre, aio de el-Rei e Dom Álvaro de Bragança, este associado ao banqueiro Bartolomeu Marchioni, florentino que reside em Lisboa, privado da Corte e com grandes serviços ao Estado: deles é a nau Anunciada(4), do comando de Nuno Leitão da Cunha, a primeira das que tornam a Lisboa.
São princípios de Março de 1500. “...a partida de Belém... foi segunda feira IX de Março” (Carta de Pero Vaz, in “Alguns documentos da Torre do Tombo”, cit. p. 108). A 14 “amtre as Canareas, mais perto da Gram Canarea”; a 22 “ouvemos vista das ilhas de Cabo Verde”; a 23 “se perdeo da frota Vaasco d’Atayde com a sua naao, sem hy aver tempo forte, nem contrairo pera poder seer; fez o capitam suas deligençias para o achar a huuas e a outras partes, e non pareceo mais”. (Id.) “...e assy seguimos nosso caminho por este mar de lomgo ataa terça feira d oitavas de pascoa que foram XXI d Abril, que topamos alguuns sygnaaes de tera... os quaaes heram muita camtidade d ervas compridas... e aa quarta feira seguinte pola manhãa topamos aves... e neeste dia, a oras de bespera, ouvemos vista de tera, saber: primeiramente d huum grande monte muy alto e redondo, e doutras terras mais baixas, ao sul dele, e de terra chãa, com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitam pos nome o monte Pascoal e aa tera de Vera Cruz” (Id.).
É a certidão de nascimento, lavrada pelo escrivão que ia para Calecut, Pero Vaz de Caminha, em carta a el-Rei, um dos raros documentos que nos restam da empresa: o Brasil foi descoberto a 22 de Abril de 1500, numa quarta-feira...



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