Bons
dias!
Vejam os leitores a
diferença que há entre um homem de olho aberto, profundo, sagaz, próprio para
remexer o mais íntimo das consciências (eu, em suma), e o resto da
população.
Toda a gente
contempla a procissão na rua, as bandas e bandeiras, o alvoroço, o tumulto, e
aplaude ou censura, segundo é abolicionista ou outra coisa; mas ninguém dá a
razão desta coisa ou daquela coisa; ninguém arrancou aos fatos uma significação,
e, depois, uma opinião. Creio que fiz um verso.
Eu, pela minha
parte, não tinha parecer. Não era por indiferença; é que me custava a achar uma
opinião. Alguém me disse que isto vinha de que certas pessoas tinham duas e
três, e que naturalmente esta injusta acumulação trazia a miséria de muitos;
pelo que, era preciso fazer uma grande revolução econômica, etc. Compreendi que
era um socialista que me falava, e mandei-o à fava. Foi outro verso, mas vi-me
livre de um amolador. Quantas vezes me não acontece o contrário!
Não foi o ato das
alforrias em massa dos últimos dias, essas alforrias incondicionais, que
vêm cair como estrelas no meio da discussão da lei da abolição. Não foi; porque
esses atos são de pura vontade, sem a menor explicação. Lá que eu gosto da
liberdade, é certo; mas o princípio da propriedade não é menos legítimo. Qual
deles escolheria? Vivia assim, como uma peteca (salvo seja), entre as duas
opiniões, até que a sagacidade e profundeza de espírito com que Deus quis
compensar a minha humildade, me indicou a opinião racional e os seus
fundamentos.
Não é novidade para
ninguém, que os escravos fugidos, em Campos, eram alugados. Em Ouro Preto fez-se
a mesma coisa, mas por um modo mais particular. Estavam ali muitos escravos
fugidos. Escravos, isto é, indivíduos que, pela legislação em vigor, eram
obrigados a servir a uma pessoa; e fugidos, isto é, que se haviam subtraído ao
poder do senhor, contra as disposições legais. Esses escravos fugidos não tinham
ocupação; lá veio, porém, um dia em que acharam salário, e parece que bom
salário.
Quem os contratou?
Quem é que foi a Ouro Preto contratar com esses escravos fugidos aos fazendeiros
A, B, C? Foram os fazendeiros D, E, F. Estes é que saíram a contratar com
aqueles escravos de outros colegas, e os levaram consigo para as suas
roças.
Não quis saber mais
nada; desde que os interessados rompiam assim a solidariedade do direito comum,
é que a questão passava a ser de simples luta pela vida, e eu, em todas as
lutas, estou sempre do lado do vencedor. Não digo que este procedimento seja
original, mas é lucrativo. Alguns não me compreenderam (porque há muito burro
neste mundo); alguém chegou a dizer-me que aqueles fazendeiros fizeram aquilo,
não porque não vissem que trabalhavam contra a própria causa, mas para pregar
uma peça ao Clapp. Imagina-se bem se arregalei os olhos.
— Sim, senhor. Saia
que o Clapp tinha o plano feito de ir a Ouro Preto pegar os tais escravos e
restituí-los aos senhores, dando-lhes ainda uma pequena indenização do seu
bolsinho, e pagando ele mesmo a sua passagem da estrada de ferro. Foi por isso
que...
— Mas então quem é
que está aqui doido?
— É o senhor; o
senhor é que perdeu o pouco juízo que tinha. Aposto que não vê que anda alguma
coisa no ar.
— Vejo; creio que é
um papagaio.
— Não, senhor; é uma
República. Querem ver que também não acredita que esta mudança é
indispensável?
— Homem, eu, a
respeito de governo, estou com Aristóteles, no capítulo dos chapéus. O melhor
chapéu é o que vai bem à cabeça. Este, por ora, não vai mal.
— Vai pessimamente.
Está saindo dos eixos; é preciso que isto seja, senão com a Monarquia, ao menos
com a República, aquilo que dizia o Rio-Post de 21 de junho do ano
passado. Você sabe alemão?
— Não.
— Não sabe
alemão?
E dizendo-lhe eu
outra vez que não sabia, ele imitando o médico de Molière, dispara-me na cara
esta algaravia do diabo:
— Es dürfte leicht
zu erweisen sein, dass Brasilien weniger eine konstitutionelle Monarchie als
eine absolute Oligarchie ist.
— Mas que quer isto
dizer?
— Que é deste último
tronco que deve brotar a flor.
— Que flor?
— As
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