quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As amazonas amerígenas


Pablo Cid (Moacyr Rosas, 1918-1998) As amazonas amerígenas

SEUS AMORES — Dando folga à imaginação sôbre os amôres das Icamiabas, alentado volume poder-se-ia escrever. Aqui, todavia, nesta síntese, só pretendemos essencial.
E para tanto compulsemos obras que digam respeito a tal assunto. Carvajal, como se viu em outro capitulo, diz que tinham comércio com o sexo forte de tempo em tempo. Alonso de Rojas conta que recebiam visita, uma vez por ano, dos índios Omáguas, a qual durava dois meses. Acunã escreveu que tinham comércio com os varões uma vez por ano, e os ditosos favorecidos chamavam-se Guacarás, que em sua obra (Lettres Americaines, Boston, 1788), Caril observa esta curiosa coincidência: a denominação dêstes naturais se assemelha muito com a dos agraciados das antigas amazonas, que, segundo Strabão, era — Gargari.
Agora vejamos o seguinte: na hipótese de que haja veracidade nesta tradição, é absurdo crer-se no regime sexual destas mulheres. Primeiramente, considerando o poderoso fator climático, devemos lembrar-nos que, mesmo em qualquer parte que se localize o reino feminino, está colocado na zona equatorial, cuja fôrça fenomenal é apta em desenvolver tudo com luxuriante beleza e precocidade, quer no reino vegetal, quer no reino animal. As mulheres alcançam a puberdade, nesta região, com menos idade que as outras noutros climas. Depois de algumas considerações, Mantegazza, em seu incansável labor de pesquisar a fisiologia da mulher, expende: “entre todos êstes fatôres o mais eficaz é o clima; pois é certo que, nos países quentes a puberdade se desenvolve primeiro que nos países frios”.

Isso, todavia, de se tornarem mulheres prematuramente, não quer dizer que fôsse impossível guardar castidade. Isso será talvez exato, porém depois das primeiras relações com o sexo oposto, pois o apetite genital ou libido, ou ainda tumescência só aparece com pronunciado vigor nas mulheres que praticaram o amor real. Porventura esta teoria vai de encontro ao paradoxal conceito do notável sexeólogo G. Marafion: — “O orgasmo é um luxo na mulher, uma necessidade no homem”. Se, na realidade, assim fôsse, muitas mulheres não deixariam periclitar a honra conjugal, para buscar alegria fora de sua alcova. Sabemos também da grande distinção que há entre aquelas e estas, que constituem o firmamento do nosso hemisfério social. Aquelas indubitàvelmente não conheciam muitas noções de higiene, enquanto as nossas se esmeram no culto da pele, o que faz lembrar a afirmação do filósofo irônico de Fèrney: “O zêlo da própria saúde faz mais sensíveis os órgãos da volúpia”. Isso, porém, não debilita o juízo formado em tôrno das amazonas. Aceitemos, agora, porém, ‘a palavra de Lombroso: “La estadística y la fisiologia humanas demuestran que la mayoria de nuestras funciones sufren la influencia del calor”. E mais adiante ‘acrescenta y, por consecuencia, al fanatismo religioso y despótico. De aquI un exceso de libertinaje”...; razão por que, dada a existência delas, não podemos de modo algum aceitar tão proverbial castidade.
A natureza tem leis irrevogáveis.

Agora escutemos a espirituosa conclusão que delas tira o grande Montesquieu (Esprit des Lois, L. 14 Cap. 1): “O certo é que o alvorôço com que elas recebiam os hóspedes, e que Acuiña nos relata, mostra que lhes não era indiferente aquela união”.


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