terça-feira, 6 de agosto de 2013
HISTÓRIA DO BRASIL DE AFRANIO PEIXOTO 3
HISTÓRIA DO BRASIL DE AFRANIO PEIXOTO
PORTUGAL
Além do Mediterrâneo, nas terras mais ocidentais da Europa, estava Portugal. Desprendido de Leão, o pequeno condado por Afonso VI doado a sua filha e genro, Dona Teresa e Dom Henrique, iria afirmar-se autônomo sob o filho deles, Dom Afonso Henriques, o primeiro rei, que já em 1137 bate Afonso VII na batalha de Cerneja: está Portugal independente e há-de crescer para o Sul... de Guimarães a Leiria, a Lisboa. Os Cruzados, de passagem (1147), ajudam-no a tomar Lisboa ao Infiel, como ajudaram Dom Sancho I a tomar Silves, a outra capital árabe do sul (1189).
Costas a Espanha, a elevada meseta pára aí, e Portugal já desce vertentes, por onde correm o Minho, o Vouga, o Douro, o Tejo, o Guadiana, até o mar. Essa descida da serra, através de degraus e socalcos, que produzem pão e vinho e azeite, e fazem a Monarquia agrária dos reis Afonsinos, irá dar, ao apelo do Atlântico, em face, provocando pescadores, ensinando a cabotagem, com a experiência e a aventura, a navegação do alto mar. Essa navegação de cabotagem, as colônias fenícias, cartaginesas, helenas — Lisboa pretende vir de Ulisses e Viana de Diómedes... — romanas, tiveram experiência, à vista, do longo curso dos mares do Norte e do Sul, nesses Cruzados. Já no fim do século XII traficantes portugueses são denunciados em Marselha e Mompilher [=Montpellier-NE]. Em 1194 naufraga no Mar do Norte, nas costas da Holanda, um barco português, carregado de mercadoria. Em 1213 João-sem-terra já autoriza mercadores portugueses a levarem a mercância a seus domínios. A escritura de concórdia de 1238, de Sancho II, o decreto aos habitantes do norte (Toti populo a minio usque ad daurium) de Afonso III, em 1253, o foral de Gaia em 1255, o de Viana em 1258, demonstraram que no inter-século XII e XIII havia tráfico useiro de comércio, com França, Flandres, Holanda e Inglaterra. Em 1293 negociantes de Lisboa fundam em Flandres uma bolsa de comércio para auxílio ao tráfico com os países setentrionais. Já Dom Fernando, em 1380, protege a marinha mercante, de naus de mais de cem toneladas, isentas de direitos sobre madeira, ferro e qualquer importação, e até de impostos “em fintas e talhas nem em sisas” e para proteger os armadores e marítimos fundara a Companhia das Naus (1). Em 1383 têm negociantes portugueses casa própria em Bruges, onde se reuniam, antes de trasladada a Antuérpia.
Se o comércio pacífico olhou o norte, o do sul exigiu a conquista. Quando Afonso III põe fora do Algarve os últimos Mouros (1249), surge a sugestão de África, do outro Algarve africano — “Alharb” é o poente ou ocidente, donde também, para os Portugueses, como para os Mouros, “Algarves d’aquém e d’além mar”, como um todo indivisível. — Este “Algarve d’além mar em África” é um apelo.
Dom Deniz [=Dom Diniz=Dom Dinis NT] ajuda a fundar, definitivamente, em Coimbra, o “estudo geral” ou Universidade, começado em 1290: é um farol espiritual, de endereço atlântico, no limite ocidental da Europa: símbolo dessa missão espiritual que ia caber a Portugal, de primeira mão — derramar a cultura mediterrânea no mundo, pelas Navegações.
No mesmo sentido importará marinheiros genoveses para pilotos e mestres de marinha militar: o Almirante Micer Manuel Peçagno, de Gênova, sucede, em 1317, ao almirante-mor lusitano e terá sempre com ele “vynte homens de Genua sabedores de mar”. (Daí esses Dória, Spinola, Cavalcanti... que passam a ser nomes nossos). É a experiência do Mediterrâneo, invocada e transplantada. O pontífice Bento XII, na bula Gaudemus, testifica que ele formava “dentro de pouco tempo marinheiros tão ousados e dextros como dificilmente se poderiam encontrar noutra parte”. Os pinhais para conter as dunas, que fizera plantar em Leiria, irão servir de sementeira às naus, assim previstas por Dom Deniz. Como quer que seja, já em 1336, sob Afonso IV, os Portugueses redescobrem as Canárias.
Se a dinastia agrária dos Afonsinos já cede aos apelos marítimos, a de Aviz far-se-á ao mar e, daí, além do tráfico, as conquistas. Com Dom João I, satisfazendo as ambições belicosas da nobreza e de luxo da burguesia, Portugal vai a África e toma Ceuta (1415): era Infiel a bater, mas o Infiel não interessa em Espanha, declinando Portugal do auxílio invocado para o expelir de Granada: Ceuta, tomada, impede a Espanha de a tomar, e Ceuta é, em Marrocos, centro de caravanas, celeiro de cereais e base militar para proteger a navegação contra os ninhos de piratas marroquinos. Dom Henrique, armado cavaleiro na mesquita muçulmana feita templo cristão, vê, ouve, pondera, para resolver. O norte de África era sonho, até o Egito, até o lendário Preste João das Índias, suposto cristão e portanto aliado natural contra o Infiel e seu comércio, que dominavam o Mediterrâneo... As especiarias pelo norte de África seriam possibilidade. Chegou-se e entrar em conversações. De 1402 a 1425 viriam seis embaixadas à Europa e cinco outras no sentido contrário, foram à Etiópia: a de 52 foi mesmo endereçada a Dom Henrique(2). Em 87 Dom João II dará o último arranco, mandando Pero de Covilhã e Afonso de Paiva em busca do Preste. A boa política exige realidades imediatas.
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