sexta-feira, 30 de agosto de 2013

HISTÓRIA DO BRASIL DE AFRANIO PEIXOTO


HISTÓRIA DO BRASIL DE AFRANIO PEIXOTO

Pero de Góes da Silveira, parente do escritor Damião de Góes, companheiro de Pero Lopes na exploração do Rio da Prata, sob Martinho Afonso, teve S. Tomé ou Paraíba do Sul, de Macahé às divisas do Espírito Santo. Veio à sua capitania, plantou cana que trouxera de S. Vicente, montou engenhocas, mas sofreu vicissitudes com os índios, matanças de colonos, abandonando, por fim, suas terras, recolhido ao Reino.
Vasco Fernandes Coitinho teve o Espírito Santo, do Itapemerim ao Mucuri. Desfrutava seu ócio de fidalgo rico, que estivera na Índia, quando, à doação, vendeu tudo e saiu da pátria, sem idéia de retorno; fundou Vitória, plantou cana, fez engenho, mas demandou-se em maus hábitos e declinou perdendo tudo, chegando a esmolar.
Pedro de Campos Tourinho teve Porto Seguro, que ia do Mucuri até o Jequitinhonha. A princípio pacífica e ordeira, a colônia progrediu com a pesca e o açúcar; sob os herdeiros decaiu, vendida ao Duque de Aveiro.
Jorge de Figueiredo Corrêa teve os Ilhéus, do Jequitinhonha ao Jaguaripe. Não veio o donatário ao Brasil: seu nome foi dado, como invocação, à vila de S. Jorge dos Ilhéus. Foi das prósperas capitanias até que, rebeldia e revoltas, invasões de índios, a fizeram declinar.
Francisco Pereira Coitinho, do Jaguaripe, no extremo sul da baía de Todos os Santos, ao rio de S. Francisco. Pereira fundou ao lado da Graça, onde morava Diogo Álvares, a Barra, muito tempo chamada “Arraial do Pereira” e, depois da cidade nova de Tomé de Sousa, a “Vila Velha”. Os colonos espalharam-se pelo recôncavo e desmandaram-se. Os índios levantaram-se e o donatário teve de fugir em navios, que naufragaram na costa de Itaparica, onde os selvagens comeram o velho donatário... A família, refugiada em Ilhéus, sofreu penúria.
Duarte Coelho, filho de Gonçalo Coelho, dos primeiros exploradores, teve Pernambuco, do S. Francisco a Itamaracá. Fundou Olinda e, aliado aos índios, a “Nova Lusitânia”, nome da colônia, que prosperou com a cana de açúcar. Seu filho Jorge de Albuquerque Coelho, continuou o prestígio e a riqueza. Foram ambos inspiradores do poema “Prosopopéa”, e da “Narração” de um naufrágio, o pai e o filho, aquele morto em África, com D. Sebastião, este escapado do mar, numa travessia do Atlântico, que conta e canta Bento Teixeira, português originário do Porto, que assim inaugurou a literatura brasileira.
A João de Barros, o historiador, e Aires da Cunha, foram dadas cem léguas, da baía da Traição à barra do Mossoró, Rio Grande do Norte, ou do Jaguaribe, no Ceará. A Fernão Álvares de Andrade coube a terra que ia do rio da Cruz, no Ceará, ate a Ponta dos Mangues Verdes, no Maranhão. Da Ponta dos Mangues à divisa entre Maranhão e Pará, era inda de Barros e de Cunha. Como João de Barros e Álvares de Andrade não pudessem vir, associaram-se a Aires da Cunha. A expedição naufraga e dispersa-se no mar; os colonos sofrem fome e, em embarcações improvisadas, alguns vão ter ao Haiti, donde não puderam sequer tornar à pátria. Apenas João de Barros logroí reaver dois filhos. Partidos em festa e fausto de Lisboa, vieram encontrar a ruína e a catástrofe.
Antônio Cardoso de Barros, finalmente, teve terras entre o Jaguaribe e Mundaú, além de Fortaleza, que veio a ser a capital do Ceará: deste nem se sabe se tentou colonizar sua capitania.
O “drama e a tragédia” das capitanias, pôde dizer um historiador (João Ribeiro)... Apenas duas prosperam, Pernambuco e S. Vicente. As outras tiveram contra si o naufrágio, no mar, e, em terra, a rebeldia dos índios e a desordem dos colonos. A penúria do donatário do Espírito Santo dá tristeza, e o destino inclemente do da Bahia, horror. Felizes os que não se meteram na aventura. Mas, ainda assim, sistematicamente, a costa do Brasil ficou conhecida e as suas possibilidades manifestas. O inimigo externo que as promovera, os Franceses, ainda não estavam longe. Em 12 de Maio de 48, de S. Vicente, Luiz de Góes(15) fazia a Dom João III exortação patética: “Se com tempo e brevidade V. A. não socorre estas capitanias e costa do Brasil... ainda que nós percamos as vidas e fazendas, V. A. perderá a terra”. “E que nisto perca pouco, aventura-se a perder muito... queira Deus não se vão (os Franceses) a dobrar o Cabo de Boa Esperança...” (Hist. de Colonização Port., t. III, p. 334).
Sem abolir o sistema das capitanias, o remédio seria o governo geral, provendo ao Brasil, abandonado, com elas, aos interesses regionais. Alguns donatários se agravariam, mas, providencialmente, fora um deles, Pero de Góes, presente à Corte, dos mais persuasivos: viria com o governador geral, por capitão-mor da costa.


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