quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

APARIÇÃO DO CLOWN DE L. RUAS


APARIÇÃO DO CLOWN DE L. RUAS

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que fazes no trapézio longínquo.
palhaço. quem já viu tua face
tua única face?
aquela que não é partida
aquela que não é pintada?
quem já beijou tua boca verdadeira?
as bailarinas beijam a boca mentirosa
a que canta a que ri a que chora
mas ninguém beijará o teu silêncio.
e tuas mãos palhaço e tuas mãos rosa
tuas mãos disfarce que nos enganam e alegram.
a bailarina lhe disse chorando – eu te amo.
ele riu. palmas. a cortina cerrou-se.
e se vestiu de nobre e deu esmola
para encobrir com seda e ouro o adultério.
palhaço. ri teu riso e oferece-nos teu almoço.
dá-nos o ridículo banquete onde comemos
rosas e suspiros e sorrisos.
e deixa-nos sonhar depois e depois chorar
tudo aquilo que não nos revelaste
a flor ainda em botão
não desabrochada não vituperada.
ninguém te vaia palhaço
todos riem somente da face mentirosa
da escandalosa face que nos ofereces
dizendo que é vinho.

todos beberiam porém teu sangue
seiva das árvores água dos rios lama das sarjetas
e comeriam tua carne que não ofereces.
carne de elefante néctar de bonina alma de passarinho.
a estrela pousou – sombra de sonho – em seu ombro
– venho do céu. vi o mundo nascer. sou como tu
eterna.
sou a mais antiga das estrelas de todas as estrelas.
dou-te todo o meu brilho se disseres
porque ris tanto se és tão triste assim.


– ora. vamos dançar.

e saiu para o palco dançando e cantando.
ninguém viu a lágrima que lhe molhou os olhos
ocultos.

palhaço.
flor-de-lis onde bimbalham chocalhos.
inocência e maldade água e sangue
azul e preto
lama e sapo.
ri palhaço que ansiamos por te ver no picadeiro
árvore estranha esquisita flor
não sabemos de que país ou de que planeta.
de onde vens palhaço? quê nos queres dizer?
fala que te espiamos cientista da vida.
tu gargalhas no palco o que choramos na vida.
embora te odiemos te amamos
pois te pareces com o menino que somos
e com o inferno que não deixamos de ser.
poeta de risos e de cabriolas
diametralmente opostas
teus trejeitos são a mais perfeita rima
que já encontrei para os poemas
que não escreverei.
somos crianças palhaço diante de ti
sou criança que não aprendi ainda
o que é o belo e o feio
o pranto e a galhofa.
o que é ser e o que é não ser.
pois tu és homem palhaço tu és homem.
clown desengraçado
 


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